terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Mário Lisboa entrevista... Bruna Diogo dos Santos

O interesse pela representação surgiu quando era muito nova, tendo subido ao palco pela 1ª vez aos 9 anos de idade, e desde aí tem desenvolvido um percurso promissor muito versátil. Sonhadora e lutadora, também tem experiência em áreas tão diferentes como, por exemplo, o Direito, a Moda e a escrita, e deseja querer mais e nunca desistir. Esta entrevista foi feita no passado dia 22 de Novembro.


M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
B.D.D.S: Eu não me recordo bem, era muito criança. Sempre gostei de fazer teatrinhos em casa, inventar diálogos, personagens, histórias para as novelas que via e fazia as cenas sozinha, fechada no quarto. Quantas vezes não me devem ter apanhado a falar sozinha! Eu aprendi a ler antes de entrar na escola, porque pedia muito aos meus avós e eles iam-me ensinando as letras. Quando aprendi o meu avô ofereceu-me um livro seu: “Este livro que vos deixo” de António Aleixo. A primeira edição de 1969. Ainda o tenho e é nele que encontrei a primeira peça pela qual me apaixonei: “Auto da Vida e da Morte”. Acabei a fazê-la imensas vezes. Aos 9 anos subi ao palco pela primeira vez, na escola. Percebi que a paixão não existia só em casa: eu tinha muito que queria mostrar àquele público todo. E percebia que queria aperfeiçoar e sentir aquilo tudo o resto da minha vida!

M.L: Quais são as suas referências, enquanto atriz?
B.D.D.S: Muitas! Nas várias vertentes que ocupam a Arte da Representação. Vejo Meryl Streep e Anthony Hopkins como dois grandes estandartes da atualidade internacional. Tenho um fascínio por James Dean, James Franco e Charlie Chaplin. Na realidade portuguesa, os nomes ainda são mais envolventes, por serem tão nossos: admiro a Eunice Muñoz, o Júlio César, o Filipe Duarte, o João Perry. São todos grandiosos, é difícil referir todos!

M.L: De tudo o que tem desenvolvido até agora a nível profissional, qual foi o mais marcante para si nomeadamente do ponto de vista emocional e pessoal?
B.D.D.S: Felizmente tenho mais do que uma coisa: tenho vários momentos e conquistas marcantes a nível pessoal e profissional. Aos 17 anos vir estudar para Lisboa foi, de ambos os pontos, uma das melhores apostas que realizei. Também o dia em que terminei o Mestrado em Direito tem uma importância única. Lutei muito pela Dissertação que escrevi e acabei com um resultado mais positivo do que esperava. Ao mesmo tempo prossegui com a minha aprendizagem no Teatro, subi ao palco com personagens que guardo com imenso amor e apostei muito na formação. Trabalhar com a Lídia Franco, o Bruno Schiappa ou Marcia Haufrecht são passagens que me marcam não apenas enquanto aprendiz de atriz, mas sem dúvida, como pessoa e mulher. Aqueles minutos de trabalho do ator, traz-nos uma perceção maior de nós. Crescemos imenso enquanto fazemos trabalho de interpretação. E depois, o apoio da minha família e amigos, e todos os momentos em que estou com eles, marcam do ponto de vista emocional. São antes de outra pessoal qualquer, aqueles que mais força me dão para abrir as asas.

M.L: Além da representação, também tem experiência em áreas tão diferentes como, por exemplo, o Direito, a Moda e a escrita. O que a move sendo muito nova a seguir áreas muito distintas?
B.D.D.S: Esta é a minha maneira de ser, sempre foi. Desde criança que não me lembro de querer ser só uma coisa. Sempre quis fazer muito mais, experimentar tudo o que pudesse para me conhecer melhor e saber se gosto ou não gosto. E se gostasse, prosseguir com isso. Escrevo desde muito cedo, é quase um vício, algo intrínseco a mim. Uma necessidade constante de explorar a minha forma de pensar e de enraizar nas folhas de papel. A ideia de criar é muito própria da minha identidade. Estou sempre a inventar alguma coisa! Sou naturalmente insatisfeita. O que pode ser uma vantagem quando pretendemos crescer tanto pessoal como profissionalmente, mas que também nos pode dar algum stress. Há que saber gerir as coisas. E eu, ao longo do tempo, tenho tentado fazê-lo. A Moda e a Fotografia surgiram mais tarde do que é comum: nunca fui muito virada para a ideia de ser modelo. Era uma “Maria-Rapaz”! Por volta dos 19 anos convidaram-me a fazer sessões fotográficas e eu experimentei. Adorei! Investi e é algo que faço essencialmente por mim. O Direito é o meu Trabalho e uma verdadeira paixão!

M.L: Como vê, hoje em dia, tanto o meio artístico como judicial a nível global?
B.D.D.S: O Mundo não vai muito bem, especialmente no meio político e judicial. Mas há uma abertura maior de ideias, uma consciencialização, uma geração potenciadora de valores e isso é maior que todas as coisas más que o Mundo possa estar a passar e é a isso que temos que nos agarrar. Acredito que temos muito para melhorar, que o Direito está a evoluir, que cada vez há mais pessoas a compreender a Arte e as diversas formas de Arte. Que estamos, verdadeiramente, a conseguir mudar um pouco o Mundo para melhor. Se calhar sou positiva demais. Mas preciso de acreditar que somos capazes.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
B.D.D.S: Humildade, ambição e Formação! E em primeiro lugar: experimentar! Experimentar a arte do teatro faz bem, mesmo que a pessoa não queira seguir essa área. Faz mesmo bem, e mais que não seja, serve para saber se gostamos de nos expor a um determinado ponto ou não. Conheço muitas pessoas que fazem Teatro porque se sentem bem e isso é capaz de ser a maneira mais genuína de sentir a Arte da Representação. Quem quer seguir esta profissão tem inevitavelmente que apostar na formação. Crescemos e ganhamos uma noção de palco que não se tem cá fora: ainda há a ideia de que é muito fácil construir uma personagem e não se pensa em todo o trabalho de pesquisa, de entendimento, de construção de um Mundo que existe à volta de um ser que será interpretado por nós.

M.L: Que balanço faz do percurso profissional que tem desenvolvido até agora?
B.D.D.S: Positivo! Há coisas que fiz, que não esperava já ter feito. Outras que já gostava de ter feito e ainda não fiz. Coisas que gosto que não esperava gostar, e também o contrário. Mas quero mais. Para a frente é o caminho.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
B.D.D.S: Ah, umas quantas! Gostava que o estágio de advocacia já tivesse terminado, mas não posso mudar o sistema que o faz ser tão longo. E já gostava de ter viajado até alguns locais que ainda não consegui, mas que se encontram na lista. A ideia é nunca desistir destes sonhos e lutar para que eles se realizem. Sempre.ML