sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Mário Lisboa entrevista... António-Pedro Vasconcelos

Desde muito cedo que se interessou pela arte de contar histórias, primeiro pela Literatura (que é a sua grande paixão ainda hoje) e depois pelo Cinema que foi a área em que enveredou e que o tornou nomeadamente conhecido do grande público, sendo um dos realizadores mais emblemáticos do meio cinematográfico português. Pai da directora de casting Patrícia Vasconcelos e com a habilidade de fazer Cinema comercial com qualidade e que pode atrair o público para ver Cinema falado em português, realizou longas-metragens como "O Lugar do Morto" (1984), “Aqui D’El Rei!” (1992), "Os Imortais" (2003), "Call Girl" (2007) e "A Bela e o Paparazzo" (2010), e, recentemente, regressou à realização com a longa-metragem "Os Gatos Não Têm Vertigens" que estreou no passado dia 25 de Setembro e desde então tem sido bem-sucedida. Esta entrevista foi feita no Hotel Infante Sagres no Porto.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo Cinema?
A.P.V: Eu sempre gostei de contar histórias. Antes do cinema, comecei por me interessar pela literatura, pelos romances, devorava livros, desde que me lembro. Na altura em que eu tive que escolher, se assim posso dizer, a minha vocação, o cinema nos finais dos anos 50 era uma coisa extraordinária, porque simultaneamente na Europa surgiu o movimento da Nouvelle Vague francesa, portanto houve oportunidades para jovens de fazerem filmes de outra maneira, e por outro lado houve a descoberta do cinema americano em grande parte graças à Cinemateca francesa que recuperou tudo o que pôde recuperar e divulgar da História do Cinema. Eu vivia em Paris nessa altura e frequentava a Cinemateca francesa, tendo visto uma média de mais de mil filmes por ano, todos os dias, durante quase três anos. Foi uma paixão que me surgiu como um prolongamento daquilo que era a minha curiosidade pelas histórias e achei que era mais fascinante contar histórias através de imagens, com personagens reais e filmando a realidade, do que através dos livros - apesar de a literatura ser a minha grande paixão ainda hoje.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto realizador?
A.P.V: São imensas. O cinema americano sempre me marcou muito nomeadamente o film noir. No que diz respeito a realizadores, o John Ford, o Howard Hawks, o Nicholas Ray, o Otto Preminger, o (Samuel) Fuller, o (Elia) Kazan, depois o Martin Scorsese dos primeiros filmes, o Clint Eastwood dos últimos, o Roberto Rossellini, o (Jean) Renoir, mais tarde o Jean-Luc Godard, o François Truffaut, etc.

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, até agora, durante o seu percurso como realizador?
A.P.V: Há filmes mais difíceis, com mais dificuldades. Os meus primeiros filmes foram muito difíceis, porque eu era simultaneamente o realizador e o produtor, portanto é sempre difícil de gerir. Foram filmes que tiveram muitos problemas, mas isto é como os filhos, a gente gosta de todos.

Depois houve um grande salto na minha obra que foi o “Aqui D’El Rei!” (1992), porque de repente eu vejo-me confrontado com um filme que tem um orçamento 30 vezes superior àquilo que era normal em Portugal e foi um filme que se tornou numa série, com 4 meses de filmagem, em que me confrontei pela primeira vez com uma estrutura profissional de produção.

Já neste século, fiz “Os Imortais” (2003) que teve uma produção difícil e foi um filme bastante mal produzido, portanto eu tive de me debater contra as dificuldades da produção, mas desde que trabalho com o Tino Navarro que deixei de ter este tipo de problemas. “Os Imortais” foi um filme muito difícil e pelo qual eu tenho um carinho especial, porque acho que é o meu filme que marca a minha maturidade como realizador e como pessoa.

M.L: “Os Imortais” contou, por exemplo, com a participação de Nicolau Breyner que interpretou o Inspector Malarranha, e sei que escreveu o papel a pensar nele. O que o levou a escolhê-lo para interpretar esta personagem?
A.P.V: Eu sempre achei que o Nico é um actor absolutamente fora-de-série e que andava perdido a fazer papéis cómicos (que ele faz muito bem), mas que no fundo nunca tinha tido a oportunidade de fazer um papel em que tivesse uma paleta tão vasta de representação. Escrevi o papel dele, em parte, para provar que ele é um actor completo, e foi a única vez na minha vida que escrevi um papel a pensar num actor; a partir daí o Nicolau passou a ser olhado de outra maneira. Infelizmente, muitos actores e realizadores portugueses não têm no seu país a oportunidade de fazerem a carreira que mereciam. Para mim, o Nico sempre foi um actor extraordinário e no fundo é como se eu estivesse estado estes anos todos à espera que ele amadurecesse para fazer o papel da sua vida, porque ele ganhou muito com a idade.ML

Esta entrevista não foi convertida sob o novo Acordo Ortográfico.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Mário Lisboa entrevista... Sofia Nicholson

Filha do actor, escritor e encenador Francisco Nicholson, desde muito cedo que se interessou pela representação, tornando-se numa das melhores e mais acarinhadas actrizes da sua geração, com um percurso que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Cinzas" (RTP), "A Lenda da Garça" (RTP), "Ajuste de Contas" (RTP), "Olhos de Água" (TVI), "A Senhora das Águas" (RTP), "O Olhar da Serpente" (SIC), "Ilha dos Amores" (TVI), "Morangos com Açúcar" (TVI), "A Outra" (TVI), "Deixa Que Te Leve" (TVI), "Espírito Indomável" (TVI), "Doce Tentação" (TVI) e "Giras e Falidas" (TVI). Empenhada e apaixonada pela sua arte, recentemente participou na telenovela "O Beijo do Escorpião" que esteve em exibição na TVI. Esta entrevista foi feita no passado dia 25 de Outubro.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
S.N: Desde que me conheço. Cresci em teatros, e estúdios de televisão, sempre foi um mundo que me fascinou. Fiz o meu 1º curso de representação aos 14 anos. Mas desde miúda que brincava aos teatrinhos sozinha no meu quarto.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto actriz?
S.N: Para começar o meu pai. Não que me tenha incentivado, que não o fez, mas vê-lo trabalhar enquanto actor e encenador, e assistir aos seus espectáculos ajudou muito na minha opção. Depois existem actores e actrizes que admiro e que são fontes de inspiração brutais a nível nacional e internacional, filmes que me marcaram, músicas, pessoas, sobretudo pessoas.

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que mais gosta de fazer?
S.N: Não posso afirmar que prefiro uma área à outra. São linguagens e formas de trabalhar diferentes. De alguma forma são trabalhos de actor que se completam; cada um tem a sua adrenalina e todos são prazerosos. Não consigo preferir um a outro, nem conseguiria abdicar de nenhuma das áreas. Mas confesso que gostava de fazer mais cinema.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como actriz?
S.N: Todos me marcam de uma forma ou de outra. Seja pelo papel em si, pelo ambiente que se viveu durante o processo de trabalho, ou pelo impacto que teve. Tenho um carinho particular por todos quanto mais não seja por ter dado um pouco de mim e eles terem-me dado algo também. Cresço e aprendo em cada trabalho que faço. Quer profissionalmente quer a nível pessoal.

M.L: Entre 2001 e 2002, participou na telenovela “A Senhora das Águas” que foi exibida na RTP, na qual interpretou a personagem Sónia Mendes Bernardes. Que recordações guarda desse trabalho?
S.N: A Sónia é me particularmente querida por ter sido o 1º e talvez o único papel menos simpático que desempenhei. Gostava de me descolar mais da imagem de boazinha que me é na maioria dos casos atribuída, é verdade. Talvez por isso goste desta Sónia por ser tão diferente da Sofia. Guardo boas recordações deste projecto.

M.L: Como vê, actualmente, o teatro e a ficção nacional?
S.N: Estamos a falar de dois sectores totalmente diferentes. A ficção nacional tem financiamento que poucos teatros têm. No entanto folgo em ver que estão em cena muitos espectáculos, mas é preciso ter consciência que muitos deles representam um investimento pela parte da produção dos mesmos que na maioria dos casos não tem retorno. E isso entristece-me. São muito poucos os que conseguem ganhar a vida só a fazer teatro. E orgulho-me de quem não desiste apesar de saber que a fraca receita de bilheteira pode apenas vir a cobrir os custos de produção e pouco mais. Devia ser dada muito mais atenção e existir mais subsídios nesta área.

A novela faz parte do quotidiano de muitos portugueses, as séries que têm sido produzidas também são muito bem recebidas; a ficção nacional ganhou o seu lugar no panorama audiovisual. E dá trabalho a muita gente, quer a actores, quer a técnicos. Tem de ser acarinhada por isso e tratada com cuidado para continuar a investir nela. Não usar a crise como desculpa até porque está provado que em tempos de crise as pessoas veem mais televisão.

M.L: Como lida com o público que acompanha sua carreira há vários anos?
S.N: Muito bem. Sinto-me acarinhada. E sou-lhe grata porque no fundo o reconhecimento do público é que me dá trabalho e vontade de fazer mais e melhor.

M.L: É filha do actor, escritor e encenador Francisco Nicholson. Como vê o percurso que o seu pai tem feito até agora?
S.N: O meu pai é um grande senhor. Não há nada que não tenha feito. Trabalhou em todas as áreas para todos os géneros. E muitas vezes contra corrente. Passou pela censura, teve de contornar muitos obstáculos muitos deles políticos. Não teve medo de fazer a Revolução aproveitando a área em que se movimentava melhor, a sua forma de expressão. Fez de um barracão um teatro que vi maioritariamente de plateia cheia e que fez nome. Os tempos eram outros, mais rijos, no entanto a sala enchia. Escreveu a 1ª novela portuguesa (“Vila Faia” (RTP), a 2ª também (“Origens” (RTP). Ele tem um currículo invejável e louvável. Só posso ter orgulho nele. Quem me dera aos 45 anos ter conseguido fazer metade do que ele já tinha feito com a mesma idade. Agora vai lançar o seu 1º romance (“Os Mortos Não Dão Autógrafos”), aos 76 anos. Ele só prova que quem quer pode. É um grande exemplo.

M.L: Em 2013, participou no musical “O Despertar da Primavera” de Steven Sater e Duncan Sheik e encenado por Fernando Pinho, na qual esteve em cena na Casa da Criatividade em S. João da Madeira. Como é que se sentiu ao participar no espectáculo inaugural de um espaço cultural?
S.N: Este processo foi mágico. E inauguramos com ele um espaço magnífico que em nada fica atrás de salas de renome internacional, muito pelo contrário. Foi muito emocionante até porque a responsabilidade e o empenho que toda a equipa teve e sentiu por inaugurar a Casa da Criatividade foram recompensados por ovações de pé de uma sala de quase 500 pessoas em todas as representações. Senti um orgulho enorme.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
S.N: Empenho, humildade, persistência e aceitar que vai ouvir muitos "nãos".

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até agora, como actriz?
S.N: Tenho tido a possibilidade de trabalhar de forma regular quer em televisão quer em teatro. Optei por uma vida bastante instável de muita incógnita o que é um desafio para quem procura segurança e certezas. Acho sempre que podia ter feito melhor mas o actor é assim mesmo, insatisfeito por natureza. Quero sempre mais e melhor, mas quem não quer? Não tenho razão de queixa no fundo. Estou grata por ter conseguido até agora manter-me na área que escolhi.

M.L: Quais são os seus próximos projectos?
S.N: Estou neste momento a preparar-me para uma peça de teatro a estrear em 2015. E espero em breve voltar ao pequeno ecrã.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
S.N: Tanta coisa! Tenho 45 anos, mal seria se tivesse feito tudo, e nada ou pouco faltasse. Julgo que nunca conseguimos fazer tudo, fica sempre algo por fazer. Olha, vou fazendo conforme vão surgindo as oportunidades. E que viva ainda muitos e bons anos para fazer o mais possível!ML

Esta entrevista não foi convertida sob o novo Acordo Ortográfico.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

"Virados do Avesso"


O "Mário Lisboa entrevista..." têm o prazer de apoiar "Virados do Avesso", a nova longa-metragem realizada por Edgar Pêra e que conta com a participação de atores como Diogo Morgado, Jorge Corrula, Diana Monteiro, Nicolau Breyner (que também é produtor desta longa-metragem, enquanto co-fundador da produtora Cinecool), Marina Albuquerque, Nuno Melo, Rui Melo, Álvaro Faria, Isabel Medina (http://mlisboaentrevista.blogspot.pt/2011/09/mario-lisboa-entrevista-isabel-medina.html), Melânia Gomes, Rui Unas, José Wallenstein, o cantor Anselmo Ralph e a apresentadora Bárbara Guimarães, na qual tem estreia marcada para o próximo dia 27 de Novembro.

"Certo dia, um homossexual (Diogo Morgado) acorda e esquece-se que o é. Não percebe o que está outro homem a fazer na sua cama e, para surpresa do companheiro de há cinco anos (Jorge Corrula) e de toda a família, torna-se um solteiro folião."

O seguinte trailer de "Virados do Avesso":

Mário Lisboa

Brevemente...

Entrevista com... Sofia Nicholson (Atriz)

Mário Lisboa entrevista... Patrícia Vasconcelos

Filha do realizador António-Pedro Vasconcelos, começou como diretora de casting em 1989 e tornou-se numa pioneira nessa área específica em Portugal, com um percurso que passa, essencialmente, pelo audiovisual. Também é cantora e em 2011 estreou-se na realização com o documentário "O Meu Raul", na qual era dedicado ao falecido ator Raul Solnado. É co-fundadora da ACT-Escola de Atores que existe desde 2001 e, até agora, tem sido determinante no que diz respeito à formação de novos atores que têm surgido no meio artístico português nos últimos anos, e, recentemente, trabalhou como diretora de casting na longa-metragem "Os Gatos Não Têm Vertigens" que foi realizada pelo seu pai. Esta entrevista foi feita no passado dia 22 de Outubro.

M.L: Quando surgiu a oportunidade de ser diretora de casting?
P.V: Em 1989 quando estava a trabalhar numa produção Franco-Portuguesa no guarda-roupa.

M.L: Como diretora de casting, trabalha, essencialmente, no audiovisual (Cinema, Televisão e Publicidade). Qual destas áreas que mais gosta de trabalhar?
P.V: Em Cinema.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como diretora de casting?
P.V: Este último - “Os Gatos Não Têm Vertigens”.

M.L: É filha do realizador António-Pedro Vasconcelos. Como vê o percurso que o seu pai tem feito até agora?
P.V: Inspirador! Mas devia filmar mais.

M.L: Foi diretora de casting da longa-metragem “Os Imortais” (2003) que foi realizada pelo seu pai e contou com a participação de atores como Joaquim de Almeida, Emmanuelle Seigner, Nicolau Breyner, Paula Mora, Rogério Samora, Joaquim Nicolau e Rui Unas. Que recordações guarda desse trabalho?
P.V: Muito Boas. O (Roman) Polanski (Marido de Emmanuelle Seigner) a jantar em minha casa.

M.L: Como vê, atualmente, o audiovisual, em termos gerais?
P.V: Com um futuro incerto, por causa deste desgoverno.

M.L: Em 2014, celebra 25 anos de carreira, desde que começou como diretora de casting em 1989. Que balanço faz destes 25 anos?
P.V: Super-positivo. Sou uma privilegiada.

M.L: Além de ser diretora de casting, também é cantora. Em qual destas funções em que se sente melhor?
P.V: Ambas! Não me imagino a fazer só uma.

M.L: É co-fundadora da ACT-Escola de Atores que existe desde 2001. Como vê o percurso que a ACT tem feito desde a sua fundação até agora?
P.V: Um maravilhoso percurso sem subsídios! Uma Escola a Crescer!

M.L: Em 2011, estreou-se na realização com o documentário “O Meu Raul”, na qual era dedicado ao falecido ator Raul Solnado. Gostava de, um dia, repetir a experiência no que a realização diz respeito?
P.V: Claro que sim!

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira no meio artístico?
P.V: Perseverança! Não baixar os braços! Insistir e Estudar!

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
P.V: O Meu Programa de TV!ML

sábado, 8 de novembro de 2014

Brevemente...

Entrevista com... Patrícia Vasconcelos (Diretora de Casting)

Mário Lisboa entrevista... Pedro Lima

Estreou-se na representação em 1997 com a telenovela "A Grande Aposta" (RTP), e desde aí tornou-se num dos mais conceituados e acarinhados atores em Portugal, com um percurso que passa, essencialmente, pelo teatro e pela televisão (onde entrou em produções como "Terra Mãe" (RTP), "Os Lobos" (RTP), "Todo o Tempo do Mundo" (TVI), "Ajuste de Contas" (RTP), "Olhos de Água" (TVI), "O Último Beijo" (TVI), "Ninguém como Tu" (TVI), "Fala-me de Amor" (TVI), "Ilha dos Amores" (TVI), "A Outra" (TVI), "Sentimentos" (TVI), "Espírito Indomável" (TVI), "O Dom" (TVI), "Doce Tentação" (TVI) e "Destinos Cruzados" (TVI). Recentemente, participou nas peças "Negócio Fechado" de David Mamet e "A Noite" de José Saramago e na telenovela "O Beijo do Escorpião" que esteve em exibição na TVI. Esta entrevista foi feita no passado dia 17 de Maio no Teatro Rivoli no Porto.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
P.L: Na adolescência. Eu frequentava muito cinema, era um dos meus principais territórios de entretenimento, o meu pai era amigo do dono dos Cinemas Quarteto em Lisboa (Pedro Bandeira Freire), portanto eu não pagava o bilhete para entrar. Por outro lado, também tinha familiares jornalistas e os jornalistas também tinham desconto nos cinemas e eu só pagava um preço simbólico para entrar no cinema. Portanto, durante a minha infância e no início da minha adolescência, frequentei cinema com muita assiduidade e acabei por ter contacto com algumas personagens representadas por atores que são as minhas grandes referências.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto ator?
P.L: Todo o percurso de vida que tive e que me inspira, mas no que diz respeito a referências de outros atores, para mim a maior referência é a Meryl Streep, porque é uma atriz que representa todos os géneros com uma qualidade que é mágica, é muito difícil alcançar o nível de excelência que ela atinge, mas esta foi uma conclusão que eu só cheguei há menos tempo, porque tenho mais experiência como ator e cada vez sinto que a minha leitura do trabalho dos outros é mais válida e mais completa. Mas, durante muitos anos, as minhas grandes referências sempre foram aqueles atores mais clássicos como o (Robert) DeNiro, o Al Pacino, o Marlon Brando, o Jack Nicholson...

M.L: Faz, essencialmente, teatro e televisão. Gostava de trabalhar mais em cinema?
P.L: Sinceramente, eu gostava de trabalhar mais em cinema, mas também gostava que em Portugal se fizesse um cinema que viajasse mais, que interessasse a muitos espectadores, que refletisse sobre questões universais, que entusiasmasse, emocionasse e inspirasse as pessoas e que permitia ser visto aqui, na Ásia, nos EUA ou em qualquer parte do Mundo. Esse é um tipo de cinema que me interessa, mas em Portugal produz-se tão pouco e quando se produz não têm muito essa preocupação de fazer produtos que sejam universais e gostaria que isso acontecesse com mais frequência e que se contasse mais histórias.

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, até agora, durante o seu percurso como ator?
P.L: Eu acho que os trabalhos mais recentes acabam por ser o que mais nos marcam como atores, a não ser que nós tenhamos a oportunidade de fazer um trabalho que seja importante e que seja falado hoje ou daqui a 10, 100 anos, e isso eu não fiz e não sei se alguma vez terei a oportunidade de fazer alguma coisa que tenha esse tipo de características. Portanto, eu seleciono alguns trabalhos mais recentes e em 2013 fui um dos protagonistas da peça “Negócio Fechado” (“Glengarry Glen Ross”) de David Mamet, produzida pela Companhia de Teatro de Almada e dirigida por Rodrigo Francisco e nesse trabalho fui obrigado a viajar para novas zonas de representação, ter um caminho de descoberta e procura de outras zonas da minha personalidade que ainda não conhecia e foi o trabalho que me marcou mais nestes últimos tempos.

M.L: Em 2009, protagonizou a longa-metragem “Contrato”, que marcou a estreia de Nicolau Breyner como realizador de cinema, na qual interpretou a personagem Peter McShade. Que recordações guarda desse trabalho?
P.L: Guardo as recordações de ter a oportunidade de trabalhar com os melhores profissionais nas diferentes áreas do cinema em Portugal. O Nicolau Breyner é um grande artista, é uma pessoa com muita criatividade, com muita qualidade, com muito mundo e com uma capacidade enorme de agregar bons profissionais que são dos melhores que há em Portugal. Trabalhamos com condições de orçamento muito apertadas e isso fez com que a participação de todos os intervenientes fosse muito apaixonada, porque ninguém estava ali pelo dinheiro, estávamos ali pelo cinema, de querer contar a história, para estarmos bem e trabalharmos em conjunto com os outros para produzirmos o melhor filme possível.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
P.L: São universos muito diferentes. Cada um com as suas
particularidades.

O teatro está a viver uma fase difícil. A produção de uma peça é sempre um risco, porque é muito difícil recuperar aquilo que foi o investimento. Quando se faz uma peça, tem que se pagar a sala, aos seus funcionários, os direitos de autor, aos atores, ao encenador, aos técnicos, etc. Tudo isto envolve um grande investimento e são raras as peças que através da bilheteira possam pagar esse investimento.

A ficção nacional está cada vez melhor, embora nós tenhamos um mercado pequeno que ainda por cima é dividido por três canais generalistas (RTP, SIC e TVI) que estão a apostar na ficção com o meio de conquistar e manter audiências e isso são boas notícias para os autores, para os atores, para os realizadores, para os técnicos e para todas as pessoas que têm a sua vida profissional ligada à produção de ficção.

M.L: Em 2014, celebra 17 anos de carreira, desde que se estreou como ator com a telenovela “A Grande Aposta” da RTP em 1997. Que balanço faz destes 17 anos?
P.L: É um balanço de grande sorte e de agradecimento por todas as oportunidades que a vida me tem oferecido para fazer profissionalmente aquilo que mais gosto. Eu sinto que tenho cada vez mais recursos como ator para responder aos desafios que me são colocados.

M.L: Como lida com o público que acompanha sua carreira há vários anos?
P.L: Com naturalidade e simpatia. Não posso dizer que seja uma pessoa muito assediada, mas sabe-me bem ser abordado por pessoas que gostam, seguem e vibram com o meu trabalho e receber essa energia que vêm dessas pessoas.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
P.L: Não dou conselhos a ninguém. Eu acho que as pessoas devem descobrir o seu próprio caminho e se eu voltasse a fazer tudo do princípio talvez tivesse investido um bocadinho mais no futuro, ter um suporte teórico da minha profissão, gostaria de ter tido essa retaguarda de preparação académica, mas não foi assim, fui aprendendo com a profissão, só que eu acho que nós aprendemos muito ao observar os outros e tenho tido o privilégio de trabalhar com os melhores atores portugueses.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
P.L: Nunca pensei nisso. Talvez trabalhar fora, de conseguir representar noutra língua em produções mais ambiciosas.ML

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

"40 e Então?" no Teatro Sá da Bandeira até 9 de Novembro


O "Mário Lisboa entrevista..." têm o prazer de apoiar a peça "40 e Então?" que é encenada por Sónia Aragão, protagonizada por Maria Henrique, Ana Brito e Cunha e Fernanda Serrano (http://mlisboaentrevista.blogspot.pt/2014/10/mario-lisboa-entrevista-fernanda-serrano.html) e está em cena no Teatro Sá da Bandeira no Porto até ao próximo dia 9 de Novembro, na qual é a sucessora da bem-sucedida peça "Confissões das Mulheres de 30" que foi protagonizada pelo trio.

"40 e Então?" é uma peça cheia de histórias comoventes e divertidas, histórias de afetos, novas e antigas que os anos fazem viver de forma diferente. São histórias contadas por outras mulheres, com vivências únicas, a quem a idade não assusta ou, se calhar, assusta e muito.

Em "40 e Então?" a vida é assumida sem tabus ou adoçante. A idade é um posto e as atrizes dão voz a textos seus e a autoras como Ana Bola, Helena Sacadura Cabral, Silvia Baptista, Inês Maria Meneses, Rita Ferro, Rute Gil e, sobretudo, a todas as mulheres que já estiveram, estão ou vão entrar na década da ternura.


https://www.youtube.com/watch?v=8LPayYHhP1U

Mário Lisboa

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Brevemente...

Entrevista com... Pedro Lima (Ator)

Mário Lisboa entrevista... Isabel Scisci

Desde muito cedo que se interessou pela representação, tendo-se estreado como atriz profissional em 1985, e desde aí tem desenvolvido um percurso que passa, essencialmente, pelo teatro. É co-autora da peça "As Encalhadas" que estreou pela primeira vez em Setembro de 2000 e está em digressão desde aí, na qual teve uma versão portuguesa protagonizada por Helena Isabel, Maria João Abreu e Rita Salema, dirigiu o extinto Teatro Paulista em São Paulo entre 1993 e 1996, e, atualmente, está no processo de escrever um livro. Esta entrevista foi feita no passado dia 13 de Outubro.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
I.S: Acho que a primeira vez que pensei em ser atriz foi quando tinha 5 anos de idade... Eu decorei uma poesia de duas páginas para uma apresentação na escola... Eu tinha uns cachinhos e um jeito que conquistou a plateia... A poesia chamava "As Faladeiras"... Eu falava mal de todo Mundo e, no final, fazia o sinal da cruz e dizia: "Ainda bem que não sou fofoqueira"... As pessoas aplaudiram-me de pé... E juro que lembro de ter pensado que gostaria de fazer isso na vida... Depois comecei a fazer apresentações com bonecos em minha casa. Eu convocava todos os vizinhos para assistir... E continuei-me apresentando nas escolas... Escrevia, dirigia e interpretava os meus próprios textos... 

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
I.S: Eu não tenho nenhuma influência direta que conscientemente tenha-me inspirado... Claro que admiro o trabalho de muitas atrizes... Mas ninguém que eu possa citar... A minha preocupação sempre foi com a mensagem que passaria no palco. Fiz também espetáculos experimentais. "As Encalhadas" foi a minha primeira comédia... E me animei em atuar porque iria escrever o texto... A ideia era provocar gargalhadas, mas falar de um assunto sério, a solidão... Acho que eu e a Miriam Palma (a outra autora e também atriz na peça) atingimos o objetivo... Muitas mulheres no final do espetáculo nos procuravam no camarim e diziam que haviam dado muitas risadas, mas que o pior é que era tudo verdade... Então as pessoas saíam da peça tendo a possibilidade de refletir sobre o assunto.

M.L: Faz, essencialmente, teatro. Gostava de trabalhar mais no audiovisual (Cinema e Televisão)?
I.S: Eu fiz algumas participações especiais em Cinema e Televisão, mas o meu objetivo sempre foi o Teatro... E já dirigi um teatro em São Paulo com duas salas de espetáculos e um restaurante de comida japonesa no saguão... Lá havia não só espetáculos de Teatro, Música e Dança, mas também desfiles de Moda e Eventos especiais... Virou um cult em São Paulo. Agora estou vivendo numa ilha e o meu objetivo é criar um espaço semelhante. Aqui ainda não tem nem Teatro, nem Cinema... E isso faz-me muita falta...

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como atriz?
I.S: Eu gosto de todos os trabalhos que fiz... De uma forma ou de outra deixaram a sua marca... Mas na peça "As Larvas" eu arrastava-me pelo palco numa piscina com água gelada... Tinha que ter muito preparo físico... Eu e mais duas atrizes nos transformávamos... A peça começava com as três viradas de ponta cabeça. Enquanto o público entrava no teatro nós tínhamos que ir baixando, de forma impercetível, até ficarmos agachadas... Era quando começava a peça... O cenário, além da piscina, era um cavalo empalhado de ponta cabeça e um visual incrível criado pelo jogo de luzes... A nossa voz, a expressão corporal... Tudo era inusitado... A minha própria mãe disse que não havia-me reconhecido no palco...

M.L: É co-autora da peça “As Encalhadas” que estreou pela primeira vez em Setembro de 2000 e está em digressão desde aí, na qual teve uma versão portuguesa. Como é que surgiu a ideia de escrever esta peça?
I.S: Eu e a Miriam estávamos desempregadas. E como tínhamos experiência em produzir espetáculos decidimos montar uma comédia. Só que queríamos uma comédia que também fizesse pensar, que não fosse apenas um espetáculo para se dar risadas... Começamos a pesquisar e não encontrávamos nenhum texto que nos seduzisse... Pensamos em encomendar uma peça para uma autora de teatro que estava despontando naquela época com uma comédia inteligente... Mas resolvemos encarar o desafio de escrever a quatro mãos, o que não é nada fácil... Na época eu havia mudado para um apartamento sozinha e estava vivenciando a experiência da solidão... Foi quando surgiu a ideia de escrever sobre esse tema...

M.L: Já alguma vez imaginou que “As Encalhadas” tivesse a longevidade que tem atualmente?
I.S: Quando a Bibi Ferreira estava ensaiando com a gente... Ela foi a diretora da peça... Disse que tinha a certeza que a peça seria um sucesso... A Bibi é super-respeitada no Brasil pelos seus trabalhos como atriz, cantora e diretora e a opinião dela sempre foi muito importante... Ficamos entusiasmadas, mas nem na melhor das hipóteses eu sonhava com um período tão grande de apresentações... Surgiu até o fan club de “As Encalhadas”, com mulheres que haviam assistido várias vezes ao espetáculo... A peça fazia sucesso até com as crianças, mesmo não sendo o nosso público-alvo... Uma menina de 10 anos chegou assistir mais de dez vezes... Ela sabia todas as músicas de cor...

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e o audiovisual (Cinema e Televisão) no Brasil?
I.S: Tanto o Teatro como o Cinema precisam de muitos incentivos para conseguir viabilizar os seus projetos... Fazer arte no Brasil não é nada fácil... Um espetáculo para ser colocado em cartaz precisa necessariamente de patrocínio... A sala de espetáculos é cara para se alugar, o preço da divulgação e da produção de cenários e figurinos também... Então o que se vê são peças de poucos atores e investimento mínimo na produção, com raras exceções... O público também acaba por ir aos espetáculos em que se apresentam os atores televisivos, de maneira geral... As novelas ainda têm uma grande aceitação, mas acredito que a sua fórmula já esteja bastante desgastada...

M.L: Em 2015, celebra 30 anos de carreira, desde que se estreou como atriz profissional em 1985. Que balanço faz destes 30 anos?
I.S: Eu não faço nenhum balanço... Procuro viver o momento e pensar nos projetos futuros... Estou empenhada atualmente em conseguir construir um Centro Cultural em Ilhabela... E também escrevendo um livro... Mas quando olho para trás fico contente por ter-me dedicado à Cultura com paixão em todos esses anos...

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
I.S: O conselho para quem quer seguir a profissão é estudar muito... E não se limitar, procurar ter experiências em todos os campos... Escrever, atuar, dirigir... E também se embrenhar na produção dos próprios projetos...

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
I.S: Agora a minha preocupação maior está sendo no meu desenvolvimento espiritual... Estou vivendo um tempo de uma viagem mais interior... Acho que tem muito a ver com o processo de escrever esse livro... E gostaria muito de poder publicá-lo e estreitar esse contacto com o mundo da Literatura.ML