quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Brevemente...

Entrevista com... Helena Matos (Atriz)

Mário Lisboa entrevista... Marcelo Rebelo de Sousa

Olá. A próxima entrevista é com o político e professor Marcelo Rebelo de Sousa. Uma das personalidades mais marcantes da vida política portuguesa, desde muito cedo que se interessou pela Política, tendo sido, por exemplo, líder do PSD (partido, da qual aderiu, após a sua fundação, em 1974), e além da Política, também é professor, e têm experiência na Comunicação Social, estando, atualmente, na TVI, como comentador político. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 27 de Outubro.

M.L: Quando surgiu o interesse pela Política?
M.R.D.S: Quando assisti às conversas políticas em família, entre os meus Pais, e entre eles e muitos amigos. E quando, na minha escola primária, com uma diretora muito aberta na Europa, havia debates políticos e quatro clubes, chamados Casas, geridas pelos alunos e participando na própria programação de atividades culturais e desportivas da Escola.

M.L: Quais são as suas influências nesta área?
M.R.D.S: Os meus Pais, os meus professores, alguns amigos, leituras, a partir dos dez, onze anos, sobretudo de autores de língua francesa, num tempo em que a influência dominante era francófona. Só depois, pelos quinze ou dezasseis anos, passou a ser importante a influência anglófona.

M.L: Além da Política, também é professor. Em qual destas funções em que se sente melhor?
M.R.D.S: A minha vocação é ser professor. Funções políticas: exerci-as em momentos muito específicos. E uma vocação é sempre mais importante do que uma função.

M.L: Têm experiência na Comunicação Social, estando, atualmente, na TVI, como comentador político. Que balanço faz do tempo em que está no canal?
M.R.D.S: Fiz imprensa na escola, desde os dez anos. Fiz imprensa em órgãos de comunicação nacionais, desde os quinze anos. Fiz televisão, pontualmente, desde os vinte e três anos. Fiz rádio, regularmente, entre 1993 e 1996. E um programa na televisão (TVI) com vários amigos, entre 1993 e 1994. Passei a fazer televisão, regularmente, também na TVI, em 2000 e até 2004. Tive de sair e mudei para a RTP, onde estive de 2005 a 2010. Estou, novamente, na TVI, há três anos e meio. A imprensa permite outro tempo e outra reflexão, mais longa e profunda. A televisão tem muitíssimo mais audiência, mas é de gestão extremamente desgastante, obrigando à procura constante de novas ideias e de fórmulas (livros, notas, imagens, conversas com terceiros, programas a partir de fora do estúdio). A rádio é, hoje em dia, um meio auxiliar, mas o mais flexível e, talvez, o mais divertido. Infelizmente, sem o peso que já teve. Na TVI, faço um balanço positivo. Deparei sempre com um ótimo clima. De 2000 a 2004, salvo o episódio da saída. De 2010 até hoje. Mudei muito de estilo, de tempo, de formato, de entrevistadores. E isso foi bom. Deve procurar-se inovar, de tanto em tanto tempo. Eu diria, de ano e meio em ano e meio. Até que eu sinta que chegou ao fim a experiência. Aí, é essencial saber deixar saudades e não ter de ser empurrado à força.

M.L: A TVI celebra, este ano, 20 anos de existência. Como vê o percurso que o canal tem feito até agora?
M.R.D.S: Começou como a televisão da Igreja Católica. Programaticamente forte, mas de espetro de audiência limitado. Mudou para televisão popular, muito virada para classes C e D, embora sem esquecer as restantes, para mulheres e jovens no final da década de 90. Mudou, já no novo século, de direção, e teve de se adaptar, também, a outro tempo (com a Internet e o cabo a subir rapidamente). Se na primeira fase, a liderança de audiências foi, de início, da RTP, passou, a seguir para a SIC, onde esteve quase uma década. Na viragem do século, a TVI assumiu a liderança e tem-na mantido no dia, com escassas exceções. No tempo nobre da publicidade, das 20 horas até às 24 horas, tem liderado até há poucos meses (altura em que a SIC se aproximou e passou a disputar, arduamente, a liderança). Neste momento, a TVI lidera dia e tempo nobre, tal como lidera neste mês de Outubro. Mas é uma luta apertada no tempo nobre. Em geral, a TVI teve o mérito de cativar classes mais pobres, de promover a telenovela portuguesa, de olhar para o público feminino, de conceber novas formas de opinião, de abrir para programas com participação em direto e temas comportamentais, de valorizar novas dimensões de reportagem. O preço foi, muitas vezes, um peso excessivo de reality-shows e de telenovelas, e de informação emotiva e baseada na sensação, para não dizer sensacionalismo, mais do que na análise. Teve sempre, mesmo na primeira fase, uma coisa que aprecio: um clima de grupo excursionista, lançado na aventura, e na descoberta, muito jovem, desempoeirado, divertido, nada burocrático, disponível para recriar, permanentemente, o futuro.

M.L: Como vê, atualmente, a Política em Portugal?
M.R.D.S: Numa época muito difícil. Por causa da crise. Por causa do cansaço de muitas portuguesas e de muitos portugueses. Por causa do distanciamento das pessoas. Por causa da frustração dos mais velhos, que sonharam outro futuro e dos mais novos que acham que não têm futuro. Por causa do afastamento de gente de qualidade que prefere não ocupar cargos políticos. Por causa da mudança de gerações. Por causa da dificuldade dos partidos e dos parceiros sociais se reformarem a si próprios. É um tempo ingrato para se ser político e para se acreditar na política e nos políticos. Mas a Democracia faz-se todos os dias e com gente nova. Logo, há que fazer mais e melhor com nova gente e não desistir da Democracia.

M.L: Como lida com o público que acompanha o seu percurso profissional, há vários anos?
M.R.D.S: Todos os dias. Aos milhares. Antes, era por carta. Depois, por fax. Agora, por email, salvo o menos jovem, que ainda escreve cartas. São centenas de mensagens, pedidos, queixas, sugestões, aplausos, reparos, convites, presentes... Eu sei lá. Sempre um bom barómetro da situação nacional. Por exemplo, os pedidos de apoios financeiros começaram em 2008 e não deixaram de subir até hoje, obrigando a um trabalho enorme para apurar factos, selecionar casos mais urgentes ou dolorosos e apoia-los. Respeito e, mais do que isso, gosto imenso do meu público (algum dele fiel há dezenas de anos). E faço tudo para, com trabalho e dedicação, continuar a merecer a sua confiança, expressa em audiências que, francamente, ultrapassam as minhas expectativas mais otimistas.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na área da Política?
M.R.D.S: Como conselho, eu diria: nunca dependam da política para viver, para não se converterem em mercenários políticos, capazes de tudo para manterem os vossos lugares. Ganhem a vossa independência profissional, tenham um lugar de recuo, para a saída, e só depois avancem para lugares. Diferente é fazerem política de base, sempre, onde moram, onde estudam, onde trabalham, em ONG, em IPSS, em partidos ou fora deles, em associações culturais, sociais, económicas. Isso faz-se todos os dias e pode ser bem mais importante do que ocupar cargos ou ser titular de funções sem conteúdo, sem espaço de manobra ou que não correspondam às vossas ideias ou maneira de ser.

M.L: Que balanço faz do percurso profissional que tem feito até agora?
M.R.D.S: Olho para trás e penso que fui um bom professor. A seguir, mas só a seguir, fui um bom comunicador, como se diz agora. E, depois, fui um bom gestor de empresas jornalísticas e da minha Faculdade. E tento ser um bom gestor da instituição fundacional que sirvo há ano e meio. Cumpri no que era o essencial da minha vida. Poderia ter feito mais ou melhor. Mas o que fiz, parece-me, genericamente, bem. Ressalvo que ninguém é bom juiz em causa própria.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
M.R.D.S: Gostava de visitar sítios, onde nunca fui, como São Petersburgo, ou ter tempo para editar obras que sonhei, mas demoram, como algumas lições académicas. Mas, sobretudo, adorava ter mais tempo para duas coisas: estar com os netos, o que não é fácil, por viverem no Brasil, e ter mais tempo, de novo, para voluntariado, no domínio da saúde, em particular, dos cuidados paliativos.

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
M.R.D.S: O que todos, em Portugal, desejam ardentemente: voltar a viver num País, sem o sufoco de uma crise na sua fase ainda aguda, mesmo em aparente caminho para uma lenta saída. E, com isso, eu, que sou um otimista realista, mas otimista, poder deparar com outra crença, outra vontade de acreditar e alegria de viver, como sentimentos coletivos. E já agora com um sonho ou, pelo menos, desígnio comunitário! Está a fazer falta esse sonho ou desígnio. Batermo-nos por nada ou por metas de défice que nunca estão certas é pouca coisa... Muito pouca coisa.ML

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Brevemente...

Entrevista com... Marcelo Rebelo de Sousa (Político/Professor)

Mário Lisboa entrevista... Ana Sousa Dias

Olá. A próxima entrevista é com a jornalista Ana Sousa Dias. Interessou-se pelo jornalismo por acaso, sendo uma das mais respeitadas jornalistas do meio português, com um percurso que passa pela imprensa, pela rádio e pela televisão (tendo-se estreado nessa área com o programa "Por Outro Lado" que foi exibido na RTP2 entre 2001 e 2007), e, atualmente, é assessora de imprensa da Fundação José Saramago. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 24 de Outubro.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
A.S.D: Na verdade, foi um acaso. Nunca tinha pensado em ser jornalista, a intenção era estudar História. Mas depois comecei a trabalhar e gostei, fui ficando com prazer.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto jornalista?
A.S.D: Até certa altura, as influências eram os mais velhos, os que me ensinaram numa altura em que não havia curso de jornalismo em Portugal. Agora aprendo com aqueles, cujo trabalho me agrada mais: novos, velhos, assim-assim.

M.L: Durante o seu percurso como jornalista, trabalhou na imprensa, na rádio e na televisão. Qual destes meios de comunicação que mais gosta de trabalhar?
A.S.D: Eu sou da imprensa, mas gostei muito de todos os outros meios, quer a televisão, quer a rádio, quer a agência (trabalhei na Agência Lusa e foi uma bela experiência).

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o seu percurso como jornalista?
A.S.D: O meu trabalho mais marcante é sempre o que está mais próximo no tempo. O de ontem, o de hoje, o que preparo para amanhã.

M.L: Entre 2001 e 2007, apresentou o programa “Por Outro Lado” que marcou a sua estreia na televisão, da qual foi exibido na RTP2. Que recordações guarda desse trabalho?
A.S.D: Foi uma boa experiência e teve uma enorme visibilidade. Tive o privilégio de, nesses anos todos, ter uma total liberdade na escolha dos entrevistados.

M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em Portugal?
A.S.D: Com preocupação, naturalmente, e, ao mesmo tempo, com expectativa: o futuro é ainda mais incerto do que sempre foi.

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
A.S.D: Uma carreira internacional no jornalismo é uma coisa muito rara. Nunca pensei nisso.

M.L: Em 2015, celebra 40 anos de carreira, desde que iniciou a sua carreira de jornalista em 1975. Que balanço faz destes 40 anos?
A.S.D: Esta profissão permitiu-me conhecer pessoas e situações a que nunca teria tido acesso sem ela e como, para mim, o mais importante, no meio de tudo isto, são as pessoas, o balanço é muito positivo.

M.L: Atualmente, é assessora de imprensa da Fundação José Saramago. Que balanço faz do tempo em que exerce essa função?
A.S.D: Tem sido muito estimulante participar na instalação e nas atividades da Fundação. É um trabalho muito interessante, este contacto com não apenas os jornalistas, mas também com os visitantes da Casa dos Bicos.

M.L: José Saramago faleceu em Junho de 2010. Como vê o percurso que ele fez até falecer?
A.S.D: Sou leitora da obra de José Saramago e conheci-o pessoalmente. Um autodidata que chega ao Nobel da Literatura só pode ser uma pessoa especial.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira no jornalismo?
A.S.D: Que tenha sempre curiosidade e que nunca esqueça os princípios deontológicos.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
A.S.D: Não sei, francamente.ML

domingo, 27 de outubro de 2013

Brevemente...

Entrevista com... Ana Sousa Dias (Jornalista)

Mário Lisboa entrevista... Tânia Orchid

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Tânia Orchid. Natural do Porto, desde muito cedo que se interessou pela representação, sendo uma das mais promissoras atrizes da sua geração, da qual tem desenvolvido um interessante percurso que passa, essencialmente, pelo teatro, e, recentemente, foi concorrente do programa "OK KO" (TVI) que foi apresentado por João Paulo Rodrigues e por Vera Fernandes, e, atualmente, é coprotagonista da peça infantil "A Tia Miséria" que é produzida pela companhia Persona D'arte que fundou, juntamente, com a atriz Rafa Santos, da qual vai estar em cena nos fins-de-semana do próximo mês de Novembro no Teatro Rápido em Lisboa. Esta entrevista foi feita no passado dia 10 de Junho no Café Tropical no Porto.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
T.O: Desde pequena que eu sempre quis ser atriz. Mas a coragem de escolher esta vida, foi por volta de 2007, quando finalizei o secundário e tive que acabar de fazer Matemática, em regime noturno. E foi com essa mudança radical que tive o interesse total de ser artista.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
T.O: Eu não tenho influências.

M.L: Faz, essencialmente, teatro. Gostava de trabalhar mais no audiovisual (Cinema e Televisão)?
T.O: Eu tenho experiência nas três áreas. Mas, onde eu gostava de ter mais experiência, remunerada preferencialmente, é na área de cinema e de televisão.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou até agora, enquanto atriz?
T.O: Foi o “Aladino-O Musical no Gelo”.

M.L: Como vê, atualmente, a Cultura em Portugal?
T.O: Vejo muito mal. Porque não temos Ministro da Cultura, porque todos os artistas não são valorizados, são renegados. E não é só o artista que não é valorizado pela sociedade, mas também os artistas não se valorizam uns aos outros, e o facto de trabalharmos com recibos verdes, sem termos subsídios, acho que é muito injusto. É uma profissão que é ingrata, porque não conseguimos viver só disto, ou muitos poucos conseguem, e não há nem uma carteira profissional que prove que somos atores, nem um subsídio de desemprego ou algo do género para termos algum tipo de ajuda.

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
T.O: Sim, acho que qualquer ator gostava de o fazer. Mas, enquanto não surgirem oportunidades, às vezes lutar não chega, é preciso o toquezinho de sorte.

M.L: Quais são os atores, em Portugal, com quem gostava de trabalhar no futuro?
T.O: O Ruy de Carvalho, a Eunice Muñoz, o Manuel Cavaco, a Alexandra Lencastre, a Margarida Marinho, a Rita Pereira, o Diogo Infante, o Albano Jerónimo, a Joana Santos, o Joaquim de Almeida, o Rogério Samora… Basicamente, são esses…

M.L: Gostava de, um dia, experimentar outras áreas como, por exemplo, a escrita?
T.O: Eu escrevo os meus próprios textos e sketches, só que são meus, não quero pô-los em público… Portanto, a nível de experiência, já a tenho…

M.L: Tem apostado na formação. Na sua opinião, quem está a iniciar uma carreira na representação, deve, mais do que tudo, apostar na formação?
T.O: Sim, acho que é importante. Eu já apostei na formação e sou licenciada em Teatro na ESAP (Escola Superior Artística do Porto). Acho que quem quer seguir esta área deve fazer, porque, hoje em dia, qualquer pessoa é ator. Acho que também somos desvalorizados, por causa disso. Já fiz trabalhos com atores de formação e com atores sem formação nenhuma e notam-se as diferenças. Porque uma pessoa que tem formação tem as bases e sabe estar no local de trabalho e trabalhar a sério e as outras pessoas não.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como atriz?
T.O: Acho que vou evoluindo. Porque eu comecei a minha carreira artística profissional no meu primeiro ano de faculdade e só aí um grande avanço, enquanto estava aprendendo e no que diz respeito à experiência. Desde que acabei a faculdade até agora, a nível de carreira, estou bem melhor e a nível de trabalho, porque vou tendo contactos. Já estive no meu auge que foi o “Aladino-O Musical no Gelo”. Passei da comédia ao drama, fui pelos clássicos, pelo teatro experimental e de formas animadas, fiz revista à portuguesa, musicais. Neste momento, formei a minha própria companhia: a Persona D’arte, com uma outra atriz (Rafa Santos) e criamos a nossa peça infantil e levamos o teatro às escolas. Numa loucura, concorremos ao Teatro Rápido e fomos aceites, vamos estar nos fins-de-semana de Novembro, em Lisboa.ML

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Brevemente...

Entrevista com... Tânia Orchid (Atriz)

Mário Lisboa entrevista... Rosa Villa

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Rosa Villa. Desde muito cedo que se interessou pela representação, sendo uma das atrizes mais acarinhadas pelo público português, com um percurso que passa, essencialmente, pelo teatro e pela televisão (onde entrou em produções como "Ricardina e Marta" (RTP), "Os Malucos do Riso" (SIC), "Roseira Brava" (RTP), "Primeiro Amor" (RTP), "A Grande Aposta" (RTP), "Capitão Roby" (SIC), "Filha do Mar" (TVI), "Amanhecer" (TVI), "Mundo Meu" (TVI), "Jura" (SIC), "Rebelde Way" (SIC), "A Minha Família" (RTP), "Dias Felizes" (TVI) e "Morangos com Açúcar" (TVI). Atualmente, participa na peça "Roleta" de Eric L. da Silva (que também participa), da qual encena, e também conta com a participação de Gonçalo Oliveira, Hugo Costa Ramos, Sofia Arruda e Sofia Nicholson, estando prevista uma digressão pelo país. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 12 de Junho.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
R.V: Comecei a representar muito cedo. Já na escola, fazia sempre parte dos elencos, para as peças de teatro. Já adolescente, comecei a fazer teatro amador em Sacavém (terra, onde nasci) na Cooperativa “A Sacavenense”. Quando estava na faculdade, ao ler o Jornal 7 (que era um jornal dedicado, única e exclusivamente, às artes), vi um anúncio, onde o Teatro Aberto ia fazer um casting a raparigas para ingressarem numa nova peça de teatro. Fui e fiquei selecionada. Estreei-me em 1984 no Teatro Aberto com a peça "UBU Português-2002 Odisseia no Terreiro do Paço" de Alfred Jarry.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
R.V: As minhas influências começam na minha família, porque a minha mãe também chegou a fazer teatro amador. Mais tarde, como via muito teatro e cinema, comecei a ter outras referências de atores profissionais, tanto portugueses, como internacionais, que se mantêm até hoje e que fazem parte da minha vida, enquanto profissional. São esses profissionais que me alimentam até hoje.

M.L: Durante o seu percurso como atriz, fez teatro e televisão, mas pouco cinema. Gostava de ter trabalhado mais neste género?
R.V: Eu não tenho um género preferido, gosto de representar. As oportunidades têm surgido, mais fluentemente, no teatro e na televisão. 

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o seu percurso como atriz?
R.V: Não tenho trabalhos que me tivessem marcado mais do que outros. Todas as personagens que fiz até hoje, sejam elas mais ou menos relevantes, têm de mim a mesma dedicação e profissionalismo. O trabalho de construção de uma personagem é, para mim, um processo maravilhoso e que me fascina.

M.L: Em 1996, participou na telenovela “Primeiro Amor” que foi exibida na RTP, da qual interpretou a personagem Lila. Que recordações guarda desse trabalho?
R.V: “Primeiro Amor” foi a minha 4ª novela. A Lila era uma personagem engraçada, arrojada e com algum grau de dificuldade e recordo-me dela com carinho, como de todas as que fiz até hoje. E dou de mim às personagens e elas também me fazem crescer, enquanto profissional.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
R.V: Desde que iniciei a minha profissão, e já lá vão alguns anos, que oiço dizer que estamos em crise. Eu acho que passamos, ciclicamente, por momentos menos bons, e passando, neste momento, o país por uma crise tão acentuada, é natural que isso se reflete em tudo e que se verifique também algumas dificuldades na nossa profissão. De qualquer forma, desde que terminei os “Morangos com Açúcar IX” (TVI) em Março de 2012, não parei de trabalhar até hoje. Já vou na 5ª produção teatral, todas elas com muita corrente de público. A televisão vai tendo as suas produções e sempre que acham que alguma personagem pode ser desempenhada por mim, os convites surgem... Quando surgirem, estou a representá-las com o maior profissionalismo.

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
R.V: Tive hipótese de fazer uma carreira internacional. Com 23 anos, tive um convite para ir trabalhar para o Canadá, só que era muito nova e não arrisquei. Acho que o convite me deixou sem folgo e tive medo de arriscar, era muito apegada à família e nenhum dos meus progenitores tinha hipótese de me acompanhar até eu me sentir mais confortável num país que não era o meu e onde não tinha amigos, nem familiares. Hoje, se tiver um convite, aceito-o, mas para fazer, pontualmente, um trabalho. Gosto do meu país e gosto de trabalhar aqui, é graças ao carinho deste povo e ao seu apoio incondicional ao meu trabalho que tenho as salas de teatro com plateias cheias.

M.L: É agenciada pela Encena-Agência de Atores que foi fundada por Alexandre Gonçalves em 1996. Como vê o percurso que a agência tem feito, desde a sua fundação até agora?
R.V: A Encena é uma agência com um nome importante no nosso panorama nacional, apoia os seus artistas e tem, neste momento, 4 salas de teatro a ela associada. O Alexandre Gonçalves é um amigo com mais de 20 anos.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
R.V: Que encarem a profissão de ator/atriz com o respeito que ela merece. Se querem fazer desta profissão a sua vida, estudem, existem escolas, tanto em Portugal, como no estrangeiro, onde podem aprender a arte de representar. Que não vejam esta profissão, única e exclusivamente, como um trampolim para a fama.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
R.V: Neste momento, estou a fazer a peça "Roleta", com encenação minha e texto do Eric L. da Silva (novos autores). Fazem parte do elenco, a Sofia Nicholson, Sofia Arruda, Rosa Villa (eu), Gonçalo Oliveira, Hugo Costa Ramos e Eric L. da Silva (autor). Estivemos no Teatro Turim e, neste momento, estamos a preparar a tourneé de Norte a Sul do país.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
R.V: Falta-me fazer imensa coisa, tanto a nível pessoal, como profissional. Com o tempo, vou riscando da lista, o que vou concretizando.ML

domingo, 20 de outubro de 2013

Brevemente...

Entrevista com... Rosa Villa (Atriz)

Mário Lisboa entrevista... António Carlos

Olá. A próxima entrevista é com o criador do "Portugal Fantástico" António Carlos. Cinéfilo convicto, desde muito cedo que se interessou pelo Cinema, e, em 2010, criou o "Portugal Fantástico", um projeto que apoia o Cinema que se faz em Portugal, sendo um grupo no Facebook e um site (http://www.portugalfantastico.com/), e, recentemente, lançou o PFShortsFest, um festival de curtas-metragens que foi criado em parceria com o Teatro Rápido, cuja 1ª edição decorreu entre Junho e Agosto, e, atualmente, está a ser preparada a 2ª edição do festival que irá decorrer em Novembro. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 8 de Outubro.

M.L: Como é que surgiu a ideia de criar o projeto “Portugal Fantástico”?
A.C: A ideia surgiu pouco tempo depois de ter feito uma pesquisa na Internet de trabalhos de Cinema nacionais, dentro do âmbito do terror e do fantástico, do qual sou um fã incondicional. Com surpresa, encontrei alguns trabalhos que desconhecia por completo, tendo ficado extremamente surpreendido com um deles: a curta-metragem “A Curva” (2004) de David Rebordão, que já havia alcançado um enorme sucesso de visualizações. Na altura, pensei para mim mesmo que, tal como eu, deveria haver centenas, milhares de fãs de Cinema que não faziam ideia do que estava a ser feito, a nível nacional, de Cinema fantástico e de terror e assim, em 2010, decidi criar o Grupo “Portugal Fantástico” com o objetivo de juntar, numa plataforma, os trabalhos nacionais que ia encontrando, dentro deste tema, de modo a ser mais fácil a sua divulgação entre os fãs de Cinema.         

M.L: Como tem sido a reação do público ao “Portugal Fantástico” até agora?
A.C: O feedback por parte do público tem sido extremamente positivo. Recebemos constantes mensagens de apoio e de agradecimento, pelo que o “Portugal Fantástico” tem proporcionado, não só dos nossos talentosos artistas e técnicos que merecem o devido reconhecimento, como também dos próprios fãs de Cinema que encontram no “Portugal Fantástico”, uma plataforma que lhe permite conhecer excelentes trabalhos nacionais. Em complemento, o festival de curtas-metragens que iniciamos este ano (PFShortsFest) tem tido uma excelente adesão, por parte do público que marca presença incondicional em todas as sessões.  

M.L: O “Portugal Fantástico” existe, desde 2010, sendo um grupo no Facebook e um site. Já alguma vez imaginou que este projeto tivesse a importância que têm agora?
A.C: A ideia inicial era a da criação de uma plataforma, onde se pudesse divulgar o Cinema nacional de terror e do fantástico, nomeadamente curtas-metragens, tendo o Grupo, na altura, não mais do que 400-500 membros. A minha expectativa, na altura, era que o “Portugal Fantástico” se torna-se numa referência, dentro desta temática. Porém, o crescimento foi tão rápido e inesperado que, pouco tempo depois, tivemos de alargar o âmbito do projeto para o apoio na promoção e divulgação do Cinema nacional em geral, Teatro, Música e Ilustração. A quantidade de pedidos de adesão ao “Portugal Fantástico” disparou ainda mais após a criação do nosso site oficial. Atualmente, contamos com perto de 8000 membros e um site com mais de 34.000 visitas/mês, o que nos deixa extremamente satisfeitos e com vontade de fazer ainda mais pelos nossos artistas.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo Cinema?
A.C: Desde miúdo que o Cinema é a minha paixão. Tive a sorte de o meu pai ser um fã incondicional de Cinema e, aos nove anos, tive a minha estreia numa sala de Cinema para ver o “E.T.-O Extra-Terrestre” (1982) e, logo de seguida, o “Time Bandits” (“Os Ladrões do Tempo”, (1981). Fiquei fascinado com toda aquela magia. Mais tarde, com o aparecimento dos gravadores de vídeo, gravava quase todos os filmes que passavam na TV. Cheguei a ter perto de 1000 filmes gravados em cassetes VHS. Depois vieram os clubes de vídeo, onde comecei a fazer “romarias” e trazer dezenas de filmes para casa. Passava as tardes e noites de fim-de-semana a ver filmes com os meus pais e com os meus amigos. Delirava com as histórias fantásticas e sonhava viver as aventuras que assistíamos nos filmes.  

M.L: Quais são as suas influências nesta área?
A.C: É complicado definir as minhas influências, pois foram variando com o tempo e com a maturidade. Porém, o género com que mais me identifico é o de terror e do fantástico, do qual sou um fã incondicional.

M.L: Sendo um cinéfilo convicto, quais foram as longas-metragens que viu e que o marcaram, até agora, ao longo da sua vida?
A.C: Posso dizer que as obras que mais me marcaram foram, como referi antes, o “E.T.” e o “Time Bandits”. Por terem sido as minhas primeiras experiências no Cinema, ainda em criança, e que despoletaram todo este fascínio. Posteriormente, existem vários filmes que me marcaram, mas saliento o “Seven-Sete Pecados Mortais” (1995) que me marcou pela inteligência do guião, mestria de realização, dramatismo conseguido e excelência na interpretação do elenco, o “Saving Private Ryan” (“O Resgate do Soldado Ryan”, (1998) que foi o único filme, até à data, que me fez cair lágrimas dos olhos numa cena de plena ação (a cena do desembarque na Normandia), o “The Thing” (“Veio do Outro Mundo”, (1982) pela mestria do grande John Carpenter que nos envolve num inigualável ambiente de tensão e de suspense, o “Aliens-O Recontro Final” (1986) de James Cameron que é um dos maiores marcos do Cinema e, talvez, o filme que mais vezes vi. A nível nacional, continuo a considerar que as obras dos anos 30/40 são dos melhores trabalhos conseguidos e muito dificilmente teremos filmes que se tornem eternos como os clássicos “O Pai Tirano” (1941), “O Pátio das Cantigas” (1942), “A Canção de Lisboa” (1933), etc. No entanto, devo referir dois filmes mais atuais que, de certa forma, me marcaram: o “Coisa Ruim” (2006) por ser um dos primeiros filmes nacionais que mais se aproxima do género de Terror, e o “Florbela” (2012) por ser tão apaixonante e intenso.

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o seu percurso profissional?
A.C: Bem, o meu percurso profissional não tem sido, dentro desta área, mas, sim, dentro da área da Gestão da Qualidade. Quando iniciei o “Portugal Fantástico” ainda estava a exercer funções numa multinacional, pelo que este projeto era mais considerado como um hobby. Entretanto, juntei-me aos milhares de portugueses que se encontram em situação de desemprego e a minha dedicação ao “Portugal Fantástico” tornou-se a 100%. No entanto, não posso considerar como profissão, visto não auferir de qualquer remuneração pelo meu trabalho no mesmo. De qualquer das formas, posso afirmar que o trabalho que mais me marcou, desde que iniciei o “Portugal Fantástico”, foi, sem dúvida, o festival PFShortsFest que tem tido uma excelente aceitação, por parte do público.  

M.L: Como vê, atualmente, o Cinema, em termos gerais?
A.C: A nível geral, e falando das produções norte-americanas, penso que o Cinema está a chegar a um ponto em que a falta de ideias originais o está a tornar cada vez mais desinteressante. Repetem-se os remakes, as sequelas, os filmes do mesmo tema e com os clichés de sempre. Pouco se inova e tornam-se cansativos. Temos, no entanto, o Cinema Europeu que tem vindo a crescer cada vez mais e saliento o Cinema Espanhol e Norueguês que nos tem presenciado com trabalhos de uma qualidade fora de serie. A nível nacional, poucos trabalhos nos são oferecidos para apreciar, pois a falta de apoios não permite aumentar o leque de oferta. É pena, pois sei que temos jovens realizadores, argumentistas extremamente talentosos que apenas não têm a sorte de estar no país certo para poderem mostrar, realmente, o que valem.   

M.L: Gostava de fazer uma carreira, em termos internacionais?
A.C: Gostava, sim, de internacionalizar o “Portugal Fantástico”. Aliás, iniciamos, recentemente, contactos com o Brasil e com os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) para a possibilidade do âmbito do “Portugal Fantástico” ser alargado para todos os Países de Língua Portuguesa.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na área do Cinema?
A.C: Que se mentalizem que uma carreira na área do Cinema em Portugal é um sonho muito difícil de concretizar mas, se amam a arte do Cinema, dediquem-se a 100%, façam muitos trabalhos experimentais, não se foquem apenas num género e mostrem o que valem no máximo de locais possível.    

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
A.C: Para já, estamos a preparar a 2ª Edição do PFShortsFest que decorrerá já no próximo mês de Novembro. Em paralelo, temos vários projetos em carteira para o “Portugal Fantástico”, mas que só poderão avançar com alguns apoios e visto os apoios neste país serem nulos, mais vale nem os adiantar. Também tenho feito alguns trabalhos de realização e produção de filmes e séries, bem como estou a escrever alguns guiões de curtas-metragens e de uma longa-metragem. 

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
A.C: Tanta coisa. A nível de Cinema, gostava de realizar uma longa-metragem e vê-la numa sala de Cinema.

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
A.C: Neste momento, a única mudança que desejo é o de poder voltar ao mercado de trabalho, de preferência numa atividade, dentro do âmbito do Cinema.ML

domingo, 13 de outubro de 2013

Brevemente...

Entrevista com... António Carlos (Criador do "Portugal Fantástico")

Mário Lisboa entrevista... Cecília Henriques

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Cecília Henriques. Desde muito cedo que se interessou pela representação, tendo-se estreado como atriz aos 14 anos, e desde aí tem desenvolvido um honesto e interessante percurso na área da representação, da qual passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão, e, em 2011, fundou, juntamente com Raimundo Cosme, Luís Lucas Lopes e Rita Chantre, a companhia Plataforma285, e também é manager da banda Lcomandante & General, que está a dar os seus primeiros passos. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 22 de Agosto.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
C.H: Estudei no Colégio Marista de Carcavelos dos 5 aos 13 anos. Desde muito pequena que dançava, e escrevia peças para o colégio, e participava nelas. Lembro-me que, quando tinha 12 anos, dizia que "queria mudar o Mundo através da Arte". Bem, hoje penso que é um propósito muito grande... Mas no fundo (ainda para mais agora com a minha companhia, onde posso trabalhar sobre o que acho necessário e urgente), acho que tento fazer isso. No 9º ano, sabia que queria ir para um curso de Teatro. Acabei por ir para o Chapitô-Escola de Artes e Ofícios. E foi aí que tudo começou, aos 14 anos.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
C.H: Como atriz, sou muito instintiva. Tenho sempre um backgroud de pesquisa e referências. Mas quando as materializo, tento ser como uma criança, sem pré-conceitos. Enquanto atriz, acredito muito no trabalho de Stanislavski. Fiz dois workshops com Robert Castle sobre "O Método" e acho que me ajuda sempre muito, quando estou a interpretar. Enquanto artista, tenho imensas influências. Tanto no Cinema, como no Teatro. Desde (Ingmar) Bergman até (Quentin) Tarantino, (Pedro) Almodóvar e, mais recentemente, sou fascinada pelo realizador Steve McQueen e pelo Terrence Malick. Enquanto autores, o Enda Walsh continua a ser o meu "mais que tudo", mas passo pela malograda Sarah Kane, Mike Bartlett, (Bertolt) Brecht, (Samuel) Beckett, Tim Crouch... Tantos. Tenho medo de me esquecer de alguns e de certeza que me estou a esquecer.

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que mais gosta de fazer?
C.H: Teatro e Cinema são as minhas paixões. Mas gosto de fazer Televisão, dá-nos desenvoltura.  

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou até agora, enquanto atriz?
C.H: Esta pergunta é muito difícil... Todos me marcaram, de uma forma diferente. "A Mata", com os meus colegas do Chapitô no Festival de Almada com os Artistas Unidos, fez-me perceber que afinal podia mesmo ser atriz. Não era só eu que me divertia a fazer aquilo, deram-me a entender que se calhar até lhe "dava uns toques". Era tudo tão fácil nessa altura. O "Disco Pigs", com os Artistas Unidos e com o meu querido Pedro Carraca, e encenado pela Franzisca Aarflot (por quem tenho um carinho e uma admiração enorme), foi para mim a minha grande estreia, para além de amar o texto, diverti-me muito, e lembro-me que era uma grande responsabilidade para mim. Só dois atores em cena, um texto tão duro e doce ao mesmo tempo, tantas camadas. No "Onde Vamos Morar", fiz uma peça do José Maria Vieira Mendes, um autor que gosto muito e que acho que tanto no trabalho que faz com Os Praga, tanto nos Artistas Unidos é ótimo. "Esta Noite Improvisa-se" foi importante, porque era uma grande encenação no Teatro Nacional (D. Maria II) com muitos atores (amigos) que respeito muito e um espetáculo muito importante para os Artistas Unidos e para o Jorge Silva Melo. O meu primeiro espetáculo de cocriação foi muito especial, com o Raimundo Cosme: o "Esa cosa Llamada Amor". Para além de começar o meu trabalho como criadora, o que foi um grande desafio, comecei a criar laços com um outro tipo de Teatro, conheci o Teatro Cão Solteiro, que é uma das companhias que sigo sempre com muito gosto e alegria, porque merecem e fazem coisas que ninguém faz em Portugal. Daquelas coisas que tu dizes: "Como é que eles se foram lembrar daquilo? Também quero!" e a partir desse momento comecei a falar com o Raimundo Cosme e decidimos fundar a nossa companhia Plataforma285.

M.L: Entre 2010 e 2012, participou na série “Lua Vermelha” que foi exibida na SIC, da qual interpretou a personagem Matilde Borges. Que recordações guarda desse trabalho?
C.H: Guardo recordações muito boas. Eramos quase todos atores de Teatro ou não muito conhecidos em Televisão e isso fez com que estivéssemos muito unidos. Tanto atores, como equipa técnica. Nessa altura, trabalhávamos tanto que acho que eramos como uma grande família. Acho que fenómenos destes só se dão uma vez na vida, devido às condições anteriormente referidas. Para quase todos, era o primeiro ou o primeiro grande trabalho para Televisão, e isso era importante para nós. Lembro-me de estar com muito medo no início, porque até aí só tinha feito Cinema, com uma câmara, muito tempo, ensaios. Pensei que ia chegar lá e não perceber nada. Mas foi como uma escola de Televisão. E guardo até hoje um carinho muito grande pela equipa técnica e pelos atores e realizadores. Tenho pena de só ter trabalhado mais uma vez com a SP (Televisão), na série "Maternidade" (RTP), mas acredito que tudo têm um sentido, e que tudo estará em ordem mais tarde.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
C.H: Acho que o Teatro é mal tratado em Portugal, devido ao facto de, na minha opinião, não existir uma "Política Cultural" e devido ao facto de sermos vistos como os coitadinhos dos que esperam pelos subsídios. Se somos (Cultura) 3% do PIB português, não devíamos ser subsidiados. Deviam era investir, mais e mais. Como fazem com as empresas. Investimento. Acho que precisamos de investir mais na "educação pela Arte". 

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
C.H: Quem é que não gostava? Sim, gostava. Falo muito bem Inglês (só Inglês, mesmo) e ainda estou à espera do telefonema do Steve McQueen a dizer: "Come on, girl. I'm waiting for you. Let's shoot my new movie..." (“Vamos lá, rapariga. Estou à tua espera. Vamos lá filmar o meu novo filme”). Quero muito fazer não só Cinema, mas Teatro lá fora.

M.L: Em 2011, fundou, juntamente com Raimundo Cosme, Luís Lucas Lopes e Rita Chantre, a companhia Plataforma285. Como é que surgiu a ideia de fundar a companhia?
C.H: Estávamos em 2011 e o Raimundo Cosme propôs-me fazermos um espetáculo no espaço da companhia Teatro Cão Solteiro. Fizemos o nosso primeiro espetáculo: "Esa Cosa Llamada Amor". E a partir daí, pensamos que tínhamos mais coisas para dizer, que queríamos trabalhar mais e que falávamos a mesma linguagem em termos de criação e estética. E assim decidimos juntar-nos ao Luís Lopes (ator) e à Rita Chantre (Fotógrafa). Fizemos a associação e já fizemos 4 espetáculos. Com suor e Lágrimas e alguns subsídios...

M.L: Que balanço faz do percurso que a companhia tem feito até agora?
C.H: É sempre muito difícil. Não somos uma companhia de 10 anos, mas pela força que temos de ter para continuar e continuar, parece que sim. Estamos constantemente a escrever projetos para apoios de entidades. Recebemos poucos até agora. Portanto mais do que lucro, que é quase ridículo, trabalhamos para pôr dinheiro na companhia e para podermos continuar a trabalhar. Mas há sempre aquela pergunta: "E quando não tivermos forças?". A questão é que somos casmurros e queremos mesmo fazer isto. Não é teimosia, é uma necessidade de comunicação. Temos momentos muito felizes (mesmo), em que estreamos ou recebemos um subsídio, e parecemos uns maluquinhos aos saltos. Mas neste momento, como estão as coisas no panorama cultural português, são mais os momentos em que dizemos: "Bem, não temos nada, mas temos que falar, temos que fazer, por isso vai custar, vai sair-nos do pêlo, mas é isto que temos a dizer, por isso vamos". E encontro, nestes momentos, muita coragem da parte do meu colega Raimundo Cosme e ele em mim. E a coragem, para mim, é das coisas mais bonitas do Mundo.

M.L: É agenciada pela H!T Management que foi fundada por Ana Varela e que pretende ser uma agência inovadora, da qual os seus agenciados são, em grande parte, atores com menor visibilidade. Como vê o percurso que a agência tem feito, desde a sua fundação até agora?
C.H: Adoro o João Louro e a Ana Varela, entre todos os outros que trabalham na H!T. Para além de serem hiper-profissionais, têm um valor humano enorme, são os primeiros agentes que encontro que realmente se importam com os seus atores. Que são sinceros. Tive uma experiência horrível na agência anterior, pensei mesmo em não ter mais agências. Aliás, todo o trabalho que tinha não vinha deles, mas de contactos que eu já tinha. No entanto, encontrei o João, falei com ele e acreditei. E estou muito contente com eles. Acho que fazem tudo como deve ser feito. Apostam em pessoas com formação e talento. Acho que estão a caminhar como se deve caminhar, com calma e juízo. E não duvido que serão uma das agências com mais atores a trabalhar daqui a uns tempos. Mesmo. Aliás, já o começam a ser. Bom para mim, bom para eles. 

M.L: Entre 2006 e 2009, trabalhou, frequentemente, com a companhia Artistas Unidos de Jorge Silva Melo. Como foi trabalhar com a companhia nessa altura?
C.H: Foram eles que pegaram em mim com 16 anos e levaram-me para o Teatro profissional. Foi com eles que aprendi a ser atriz. Eles foram a minha "escola". Conheci atores maravilhosos, autores maravilhosos, amigos maravilhosos. Foi um momento muito, muito feliz na minha vida. Trabalhei com o Jorge Silva Melo, com quem aprendi muito. Toda a minha escola de interpretação de textos veio dele e dos restantes Artistas Unidos. Bem como da Franzisca Aarflot. Guardo as melhores memórias com a Companhia e continuo a seguir o trabalho deles, sempre.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como atriz?
C.H: Trabalho profissionalmente, desde os 14 anos. Portanto (a brincar, a brincar), faço, este ano, 10 anos de carreira. No fundo, foi um percurso com mais altos que baixos. Desde há dois anos que tem sido mais difícil. Mas não deixo de lutar, até porque não há outra coisa que queria ou que, na realidade, saiba fazer! É uma profissão que me deixa feliz. Não como tratam o Teatro ou o Cinema em Portugal. Aliás, neste momento, como tratam os Portugueses em geral. Mas sou muito feliz como criadora e como atriz.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
C.H: Estreio, no início de Novembro, o novo espetáculo da minha Companhia Plataforma285: "Leilão" no Teatro Cão Solteiro. Em Outubro, vou participar no filme "Benoît Brisefer: Les Taxis Rouges", uma produção francesa da Filmes do Tejo. Agora estou a trabalhar noutra área que sempre me interessou muito: a Música. Sou Manager de uma banda que começa a dar os primeiros passos: Lcomandante & General, com Cláudio Teixeira e Filipe Almeida. São ótimos músicos e artistas. Sempre gostei de programação musical. E talvez outros projetos que aí venham... Nós nunca sabemos, não é?ML

Fotografia: Rita Chantre

domingo, 6 de outubro de 2013

Brevemente...

Entrevista com... Cecília Henriques (Atriz)

Fotografia: Rita Chantre

Mário Lisboa entrevista... Fátima Araújo

Olá. A próxima entrevista é com a jornalista da RTP Fátima Araújo. Natural do concelho de Santa Maria da Feira, interessou-se pelo jornalismo aos 13 anos, quando começou a trabalhar nas rádios piratas e locais, e desde aí tem desenvolvido um interessante e decente percurso como jornalista que passa, essencialmente, pela rádio e pela televisão (tendo trabalhado na extinta NTV e trabalha, atualmente, na RTP), sendo um dos grandes valores da nova vaga de jornalistas que têm surgido, em Portugal, nos últimos anos, e além do jornalismo, também é professora. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 18 de Junho.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
F.A: Surgiu por volta dos 13 anos, quando comecei a trabalhar nas rádios piratas e nas rádios locais. Comecei por fazer animação e discos pedidos, depois fui acumulando com notícias e entrevistas, pelo que o interesse pela prática jornalística foi crescendo e amadurecendo.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto jornalista?
F.A: Procuro não ser muito influenciada por nada e por ninguém. Até porque entendo que um jornalista tem de ter uma identidade própria, um cunho próprio e um referencial diferenciador próprio. Mas, obviamente, tenho referências profissionais, de outros jornalistas que admiro, que me inspiram e que me fazem desejar, um dia, ter uma carreira tão sólida, tão preenchida e tão prestigiante quanto a deles.

M.L: Trabalhou na rádio, depois passa para a televisão, tendo trabalhado na extinta NTV e, atualmente, trabalha na RTP. Que balanço faz do tempo em que está no canal?
F.A: Todos esses períodos foram períodos de aprendizagem e de amadurecimento pessoal e profissional. Com mais ou menos inquietações, com mais ou menos oportunidades de trabalho, com mais ou menos realizações, tudo faz parte do processo de crescimento e de evolução. A chegada à RTP foi a possibilidade de fazer, de forma mais profissional, aquilo que comecei por fazer, de forma mais amadora, na NTV. Mas a NTV foi uma boa escola: de partilha, de trabalho em equipa, de vestir a camisola por um projeto, de sonhos e de vontades de crescer!

M.L: Além do jornalismo, também é professora. Em qual destas funções em que se sente melhor?
F.A: Sinto-me muito bem em ambas as funções! Gosto de fazer as duas coisas: Jornalismo e dar aulas! E acredito que desempenho bem as duas funções (pelo menos, é esse o feedback que tenho dos meus colegas de profissão, do público e dos meus alunos)!

M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em Portugal?
F.A: Os órgãos de comunicação social não são exceção ao que se passa com o país: falta de mercado de trabalho, precariedade laboral, baixos salários e apreensão quanto ao futuro. Do ponto de vista dos conteúdos editoriais, também se nota que as restrições orçamentais hipotecam a qualidade e a diversidade de conteúdos dos órgãos de comunicação. Por outro lado, os Media em Portugal caracterizam-se muito por um mimetismo e por um “andar a reboque” da concorrência que retira criatividade e alternativa aos conteúdos oferecidos aos públicos.

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
F.A: Gostar, em teoria, gostava! Mas não penso nisso, não ambiciono isso, nem trabalho a pensar nisso. Se acontecesse, por algum feliz acaso, gostaria. Mas não é essa a minha meta, nem o meu objetivo!

M.L: É natural de Santa Maria da Feira. Como vê a evolução que o concelho tem tido ao longo dos anos?
F.A: É um concelho que se afirmou económica, social e culturalmente ao longo dos anos como muitos poucos o têm conseguido fazer. É um concelho que tem a marca de “concelho solidário” pela inúmera quantidade de projetos de apoio a crianças, jovens e idosos. É um concelho com uma oferta cultural ímpar que atrai milhares de pessoas, todos os anos, a Santa Maria da Feira. São disso exemplo, a Viagem Medieval, o Imaginarius, o Festival da Juventude, o Festival de Cinema Luso-Brasileiro, o Moda Feira, as inúmeras conferências, colóquios e debates que ocorrem frequentemente.

M.L: Gostava de passar a viver e trabalhar em Lisboa?
F.A: Já vivi e já trabalhei em Lisboa, quando acabei a Licenciatura e fui estagiar para a RTP, em Lisboa. Acabei por ficar na capital 3 anos, na RTP e na Rádio Renascença. Sei hoje, como o sabia na altura, que nunca deveria ter regressado ao Norte (porque as oportunidades de trabalho nesta área são muito maiores em Lisboa). Mas teve de ser!

M.L: A Comunicação Social tem estado em grande mudança nos últimos anos. Quais são os desafios que a Comunicação Social tem de enfrentar nos próximos anos?
F.A: O grande desafio dos Media passa pela diferenciação de conteúdos, de abordagens, de paradigmas e de procedimentos e pela eliminação de alguns vícios sistémicos de funcionamento e de hierarquias. E também passar pela adaptação dessa diferenciação ao público específico que se pretende que seja o nosso público. A lógica de querer agradar a gregos e a troianos, de fazer enlatados de notícias só porque os outros também falam disto ou daquilo não permite a nenhum órgão de informação afirmar-se como alternativa e como marca com identidade.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira no jornalismo?
F.A: Desista do Jornalismo e tire outro curso com maior índice de empregabilidade. O Jornalismo não é a profissão romanceada que muita gente julga que é.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como jornalista?
F.A: Ainda tenho muito para fazer e para aprender… Apesar de já ter dado muitas provas do meu valor e do meu talento, apesar de já ter havido quem quisesse potenciar esse meu valor e talento e apesar de já ter havido também quem tivesse emprateleirado esse meu valor e talento, o caminho faz-se caminhando, como em tudo na vida.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
F.A: Acabar de escrever os dois livros que nunca mais acabo de escrever, publicá-los e abrir um negócio próprio ligado ao turismo.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
F.A: As viagens à Índia, à Argentina e Patagónia, ao México, ao Camboja e ao Vietname, que tenho vindo a adiar de há 4 anos a esta parte!

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
F.A: (Quase) tudo!!!ML

Brevemente...

Entrevista com... Fátima Araújo (Jornalista da RTP)

sábado, 5 de outubro de 2013

Mário Lisboa entrevista... Marcelo Zarvos

Olá. A próxima entrevista é com o pianista e compositor brasileiro Marcelo Zarvos. Casado com a atriz americana Janel Moloney, desde muito cedo que se interessou pela música, sendo um dos grandes valores musicais da sua geração, com um percurso que passa por várias áreas incluindo cinema e televisão (onde trabalhou em produções cinematográficas como as longas-metragens "A Porta no Chão" (2004), "Hollywoodland" (2006), "O Bom Pastor" (2006), "O Ar Que Respiramos" (2007), "Pânico em Hollywood" (2008), "Autocarro 174" (2008), "Atraídos pelo Crime" (2009), "Lembra-te de Mim" (2010), "O Castor" (2011), "As Palavras" (2012) e "Flores Raras" (2013) e produções televisivas como a série "O Grande C" (2010-2013) e os telefilmes "You Don't Know Jack" (2010) e "Phil Spector" (2013), e, recentemente, conduziu a banda sonora das longas-metragens "Enough Said" (que conta, por exemplo, com a participação do recém-falecido James Gandolfini) e "The Face of Love" (que conta com a participação de atores como Robin Williams, Ed Harris e Annette Bening), e, atualmente, conduz a banda sonora da série "Ray Donovan" da chancela do canal por cabo norte-americano Showtime e protagonizada por Liev Schreiber, cuja segunda temporada está prevista para estrear em 2014. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 30 de Setembro.

M.L: Quando surgiu o interesse pela Música?
M.Z: Eu comecei a tocar piano aos dez anos de idade e a minha primeira atração foi por bandas sonoras de filmes como “The Sting” (“A Golpada”, (1973) e “The Godfather” (“O Padrinho”, (1972).

M.L: Quais são as suas influências nesta área?
M.Z: As minhas influências vêm tanto de compositores para cinema como Nino Rota, Ennio Morricone, Bernard Herrmann, Georges Delerue e clássicos como Bach, Steve Reich, (Sergei) Prokofiev e Morton Feldman. E na música popular, eu diria António Carlos Jobim e Thelonious Monk.

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, tanto como pianista e como compositor?
M.Z: “The Door in the Floor” (“A Porta no Chão”, (2004). Foi a minha primeira banda sonora para orquestra e ainda uma das minhas favoritas mesmo depois de tantos anos. Ainda recebo muitos elogios por essa banda sonora, inclusive de pessoas que nem viram o filme, mas escutam muito o CD com a banda sonora. Outra coisa que me marcou muito foi o meu quarteto de cordas Nepomuk's Dances. Eu recebo emails de grupos de toda a parte que querem tocar essa peça, inclusive de muitos grupos jovens, o que me deixa muito feliz.

M.L: Foi coautor da banda sonora da longa-metragem “O Bom Pastor” (2006) de Robert DeNiro. Que recordações guarda desse trabalho?
M.Z: Foi um trabalho muito intenso, com pouco mais de um mês para compor quase duas horas de música. Eu nunca tinha trabalhado num filme tão épico e, ao mesmo tempo, com uma sensibilidade tão distinta. 

M.L: “O Bom Pastor” marcou a segunda incursão de Robert DeNiro pela realização (estreou-se na realização em 1993 com a longa-metragem “Um Bairro em Nova Iorque” (A Bronx Tale”). Como foi trabalhar com ele?
M.Z: Foi um sonho. O DeNiro é um dos grandes cineastas de todos os tempos e muitos dos meus filmes e bandas sonoras favoritas foram projetos que ele participou como “Taxi Driver” (1976), “The Mission” (“A Missão”, (1986) e “The Godfather-Part II” (“O Padrinho-Parte II”, (1974). Ele é muito sensível e tinha uma ideia bem clara de como a música deveria funcionar no filme. Ele ficou muito feliz e eu tenho muito orgulho desse filme. 

M.L: Como vê, atualmente, a indústria da Música?
M.Z: Eu acho que a música está na linha da frente da revolução tecnológica que estamos passando. Embora, obviamente, certos elementos como discos estejam praticamente acabados, a necessidade de música do Ser Humano nunca foi maior. Eu fui um pouco poupado da crise da indústria fonográfica por estar trabalhando mais com Cinema, mas acho que ainda tem muita coisa boa acontecendo e a única dificuldade é como os artistas vão sobreviver. Uma das poucas áreas ainda relativamente intactas é a Música ao vivo e acho que por ali deve surgir um novo caminho para o público e os artistas interagirem.

M.L: Vive nos EUA, mas nasceu no Brasil. Como vê, hoje em dia, o Brasil, em termos artísticos?
M.Z: O Brasil passa por um momento muito interessante, com uma classe média que cresce muito rápido e que quer ver cada vez mais os seus valores refletidos nas artes. O Cinema cresce cada vez mais e a TV está passando por uma grande explosão de conteúdo. A dificuldade vai ser como gerar material que seja, realmente, Brasileiro e não somente uma cópia dos trabalhos dos americanos. A música continua a ser a grande paixão nacional e, realmente, a riqueza da música Brasileira é algo fenomenal.

M.L: É casado com a atriz americana Janel Moloney. Como vê o percurso que a sua mulher tem feito até agora?
M.Z: Ela tem uma carreira incrível e acho que muitas pessoas consideram “The West Wing” (“Os Homens do Presidente”, (1999-2006) como um dos grandes marcos da TV mundial. Ela continua muito ativa fazendo Cinema, Teatro e Televisão.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na área da Música?
M.Z: Eu diria isso. Se consegue viver sem Música, faça isso. O que eu quero dizer é que a vida na Música não é fácil. Eu tenho muita sorte, pois consegui um espaço de compositor muito confortável, mas a verdade é que eu faço isso, porque amo o meu trabalho e mesmo que tivesse que fazer de graça, eu continuaria sendo Músico. E acho que essa vontade é 100% essencial para qualquer pessoa que queira embarcar numa carreira musical.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como pianista e como compositor?
M.Z: Eu ainda tenho muita coisa para fazer. Gostaria de voltar a trabalhar mais com música clássica e jazz. Tenho uma carreira bem estabelecida, mas também sei que os desafios têm sempre que continuar. Não acho uma coisa boa para qualquer artista ficar muito confortável, pois isso nos impulsiona a sempre crescer e mudar.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
M.Z: Tenho dois filmes saindo nos EUA: “Enough Said” e “The Face of Love”. Também tenho uma série de TV chamada “Ray Donovan” que está fazendo muito sucesso por aqui e devo voltar para trabalhar na segunda temporada no início de 2014.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
M.Z: Eu gostaria de escrever um musical ou uma ópera.

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
M.Z: Mais tempo para passar com a minha esposa e com os meus filhos...ML

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Brevemente...

Entrevista com... Marcelo Zarvos (Pianista/Compositor)

Mário Lisboa entrevista... Patrícia Kogut

Olá. A próxima entrevista é com a jornalista brasileira Patrícia Kogut. Desde muito cedo que se interessou pelo jornalismo, tendo-se tornado numa das mais reputadas jornalistas do meio brasileiro, com um percurso que passa, essencialmente, pela imprensa. Desde 1995 que trabalha no jornal O Globo, onde assina uma coluna diária sobre televisão, desde 1998 e, atualmente, está com um projeto de um livro, da qual pretende voltar a trabalhar brevemente. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 30 de Agosto.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
P.K: Desde cedo que sempre gostei de escrever. Estudei Letras na universidade, antes de estudar Jornalismo. O trabalho no jornal sempre me pareceu atraente.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto jornalista?
P.K: Admiro muitos profissionais, mas não sinto isso como influências. Tento ser correta e justa nos julgamentos que faço na coluna.

M.L: Trabalha, essencialmente, na imprensa. Gostava de, um dia, trabalhar em outros meios de comunicação como, por exemplo, a televisão?
P.K: Mário, lá atrás, no início, eu tentei a televisão. Mas sou tímida e não senti-me muito à vontade. Admiro quem faz, mas não é para mim. Também gosto de rádio, que nunca fiz, mas admiro o veículo. Encontrei-me escrevendo, gosto de jornal.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o seu percurso como jornalista?
P.K: Não saberia citar um. Gosto muito de escrever sobre televisão, mas uma das vantagens de trabalhar num jornal grande é que, se estiver cansado do seu tema, pode escrever para outras editoriais. Embora escreva uma coluna diária, o que toma tempo e prende a pessoa na redação, gosto, de vez em quando, de ir para a rua fazer uma matéria.

M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social no Brasil?
P.K: Como mercado, está muito difícil. Há uma crise aqui, como em outros países, no jornalismo impresso. Há publicações sendo fechadas. Não é fácil.

M.L: Gostava de fazer uma carreira, em termos internacionais?
P.K: Mário, nunca pensei nisso, mas seria bom!

M.L: Desde 1995 que trabalha no jornal O Globo, onde assina uma coluna diária sobre televisão. Que balanço faz do tempo em que trabalha no jornal?
P.K: Aprendi muito aqui, quase tudo o que sei da profissão. Cheguei com pouca experiência, vinda de uma revista feminina. Descobri que era capaz de produzir muito, num ritmo diário, muitas vezes pesado. Tive muitas alegrias e continuo tendo. Não é uma vida fácil, mas vale.

M.L: Assina a sua coluna, desde 1998. Como tem sido a reação do público à sua coluna ao longo dos anos?
P.K: Depende de quem lê. Quem recebe críticas, muitas vezes, se aborrece. Procuro ser a voz do leitor e sinto, pelos emails que recebo, que isso, em geral, acontece. A coluna agrada e desagrada ao mesmo tempo, mas acho que o papel dela é esse mesmo.

M.L: Como é que é a sua rotina, quando escreve a sua coluna?
P.K: É uma rotina intensa, porque preciso de assistir a muitos programas de TV e escrever e ainda mantenho um site (www.patriciakogut.com). Mas tenho uma ótima equipa (quatro repórteres) que ajuda-me imensamente.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira no jornalismo?
P.K: Não tenha medo do trabalho e divirta-se.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como jornalista?
P.K: Acho que é um balanço positivo. Gosto muito da profissão, faço com alegria.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
P.K: De momento, tenho um projeto de um livro que está parado. Mas vai andar em breve.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
P.K: Muita coisa. Muitas entrevistas, o livro que não acabei e o que mais vier.ML