sábado, 25 de maio de 2013

Brevemente...

Entrevista com... Carmo Soares (Professora)

Mário Lisboa entrevista... António Rama

Olá. A próxima entrevista é com o actor António Rama. Desde muito cedo que se interessou pela representação e tem desenvolvido um memorável e interessante percurso como actor que já conta com quase 50 anos de existência, da qual passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Chuva na Areia" (RTP), "Desencontros" (RTP), "Filhos do Vento" (RTP), "Esquadra de Polícia" (RTP), "A Raia dos Medos" (RTP), "Alves dos Reis" (RTP), "O Olhar da Serpente" (SIC), "A Ferreirinha" (RTP) e "Fala-me de Amor" (TVI) e recentemente participou na curta-metragem "Lápis Azul" de Rafael Antunes, que a SIC exibiu na madrugada de 25 de Abril deste ano, da qual retrata a Censura em Portugal na época pré-25 de Abril, e também conta com a participação de actores como Anabela Teixeira, Manuel Cavaco, Rogério Samora e o realizador Jorge Paixão da Costa. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 26 de Abril.
(A entrevista não foi convertida sob o novo Acordo Ortográfico.)

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
A.R: Desde pequeno, o teatro na aldeia, todos os Natais, fascinava-me. A Igreja com o seu ritual. Comprei as peças com as figurinhas do presépio e representava enormes peças na mesa-de-cabeceira.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto actor?
A.R: Ninguém me influenciou directamente. Deixei que as coisas acontecessem naturalmente em mim. Claro que admirava os grandes actores internacionais que via no cinema. Os actores portugueses, através da TV: José de Castro, Paulo Renato, Assis Pacheco, Laura Alves, que vi representar aos 12 anos, mal sabendo que daí a 25, iria contracenar com ela no (Teatro do) Capitólio.

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
A.R: Embora o acto de representar seja o mesmo, varia a Técnica de o fazer. É, sem dúvida, o teatro. É a matriz, o princípio do ser teatral.

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o seu percurso como actor?
A.R: Em cada peça, deixamos um pouco de nós e guardamos algo de indecifrável para nós. Mas houve papéis que adorei fazer e que alteraram muita coisa na minha vida: "A Traição do Padre Martinho", "Jesus Cristo em Lisboa", "O Judeu", "Anatol", "Clamor" e muitos outros.

M.L: Entre 2002 e 2003, participou na telenovela “O Olhar da Serpente” que foi exibida na SIC, da qual interpretou o vilão Pedro Almeida de Madurães. Que recordações guarda desse trabalho?
A.R: Foi um trabalho fácil, muito bem pago, numa novela bastante interessante que desapareceu do ar por pressões politicas. A protagonista (Maria dos Prazeres) tinha dormido com altas figuras do PPD.

M.L: “O Olhar da Serpente” foi o último trabalho do realizador Álvaro Fugulin, que faleceu pouco tempo depois da telenovela ter estreado, com quem já tinha trabalhado anteriormente. Como foi trabalhar com ele?
A.R: O Álvaro era um homem admirável. Todas as novelas que fiz foram realizadas por ele. Sofria do coração, foi à festa do fim da rodagem de "O Olhar da Serpente", excedeu-se um pouco e morreu no dia seguinte. Era calmo, doce e sabia muito do "métier". Foi uma grande perda para todos nós.

M.L: Como vê, actualmente, o teatro e a ficção nacional?
A.R: Apesar da asfixia do Governo, a classe teatral tem resistido, estoicamente, contra este garrote à cultura portuguesa. Mas, infelizmente, há muitas pessoas desempregadas. Baixaram os bilhetes, apesar de tudo, há público. O Teatro é imortal.

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
A.R: Fiz várias coisas na Bélgica, França e Luxemburgo, mas foi um acaso. O actor de Teatro está muito limitado pela língua e eu adoro o português. Fiquei por cá, entre os meus que me deram muito prazer.

M.L: Em 2014, celebra 50 anos de carreira, desde que se estreou como actor na peça “Farsa de Inês Pereira” na Casa da Comédia em 1964. Que balanço faz destes 50 anos?
A.R: Valeu a pena.

M.L: Recentemente, participou na curta-metragem “Lápis Azul” de Rafael Antunes, da qual interpretou a personagem Coronel Barros Lopes. Que balanço faz deste trabalho?
A.R: Foi um convite difícil de aceitar. O Rafael Antunes telefonou-me a convidar-me. Disse-lhe que não podia fazer dado me ter sido diagnosticado um enfisema pulmonar e tinha decidido retirar-me em sossego. Ele não se resignou, veio a minha casa e com falinhas mansas, lá me convenceu. Foi um trabalho agradável numa área que gosto bastante. Fiz muito pouco cinema e só agora no fim da carreira me vêm chamar. Mas foi muito bom.

M.L: “Lápis Azul” retrata a Censura em Portugal na época pré-25 de Abril. Na sua opinião, ainda há vestígios da Censura, quase 40 anos depois da Revolução dos Cravos?
A.R: Há uma Censura terrível de que as pessoas não se lembram. O garrote económico, digamos, que é um enorme travão à criatividade.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
A.R: Que o faça ciente que vai passar por muitas dificuldades, que tem de trabalhar muito, tanto o corpo, como a voz e, sobretudo, aumentar a sua cultura geral. O teatro não é, nem se compadece, com vaidadezinhas de “Morangos com Açúcar” (TVI). É preciso saber, porque é que se luta.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
A.R: Nada. Estou bem com o que fiz.ML

Brevemente...

Entrevista com... António Rama (Ator)

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Mário Lisboa entrevista... Adriana Rabelo

Olá. A próxima entrevista é com a atriz brasileira Adriana Rabelo. Interessou-se pela representação, durante a adolescência, e tem desenvolvido um percurso como atriz que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Segredo" (RTP), "Páginas da Vida" (TV Globo), "Eterna Magia" (TV Globo) e "Cordel Encantado" (TV Globo) e desde 2006 que protagoniza a peça "Visitando Camille Claudel", um monólogo idealizado e produzido pela própria, sobre a escultora francesa com o mesmo nome, e recentemente participou na longa-metragem "O Grande Kilapy" de Zezé Gamboa, uma coprodução entre Brasil, Portugal e Angola que também conta com a participação de atores como Lázaro Ramos, Patrícia Bull, Sílvia Rizzo, São José Correia, João Lagarto e José Pedro Gomes. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 20 de Maio.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
A.R: Na adolescência, quando fui fazer um curso livre de teatro, para trabalhar a minha timidez. Quando me dei conta, já estava em cursos profissionais. O teatro é um espaço, onde sinto-me mais confortável.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
A.R: Sou uma atriz que busco a minha autenticidade, pesquisando o meu corpo, a minha voz e avaliando o meu trabalho, para cada vez mais fazer o meu melhor. Mas gosto de observar atrizes que admiro como Fernanda Montenegro, Isabelle Huppert, Cate Blanchett, Bette Davis, Meryl Streep e muitas outras.

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que mais gosta de fazer?
A.R: Eu gosto de trabalhar e não importa qual seja o veículo, mas confesso que o cinema e o teatro atraem-me mais, pois temos mais tempo para aprofundar as personagens.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o seu percurso como atriz?
A.R: Foi o monólogo teatral sobre a escultora francesa Camille Claudel, dirigido por Ramon Botelho. Idealizei esse projeto e produzi juntamente com o diretor. Não imaginei que fosse ter vida longa. Estreei em 2006 e faço apresentações até hoje. Camille Claudel foi uma mulher de forte personalidade, à frente do seu tempo (final do Século XIX), que lutou contra os preconceitos de uma sociedade extremamente machista, em busca da liberdade de expressão como mulher e como artista. Saio sempre comovida com a sua história, mas sinto-me como uma mulher mais forte, mais inteira, mesmo sabendo do final trágico de Camille. 

M.L: Em 2005, participou na série luso-brasileira “Segredo” que foi exibida na RTP, da qual interpretou a personagem Cristina. Que recordações guarda desse trabalho?
A.R: Tenho boas recordações e uma delas foi ter tido o privilégio de trabalhar com o ator português Henrique Viana que, infelizmente, já nos deixou. Ele era o meu pai na série. Um grande ator e muito divertido. Aprendi muito com ele.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e o audiovisual (Cinema e Televisão) no Brasil?
A.R: No Brasil, fazer teatro é uma tarefa árdua, porque não existe uma política cultural eficiente. Poucos conseguem patrocínio para fazer um projeto de teatro. O cinema está crescendo, estamos fazendo bons filmes, mas ele também precisa de mais incentivo, de mais salas e de mais público.

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
A.R: Não tenho esse objetivo, mas se acontecer, é porque tinha que ser.

M.L: Recentemente, participou na longa-metragem “O Grande Kilapy” de Zezé Gamboa e é uma coprodução entre Brasil, Portugal e Angola, da qual interpretou a personagem Maria Antónia (Mitó). Como correu este trabalho?
A.R: Foi uma bela experiência, poder trabalhar com grandes talentos de países tão distintos como Brasil, Portugal e Angola. Deveria existir mais coproduções como esta, pois é uma forma de valorizar a nossa língua, fortalecer a cultura de cada país, unir e trocar vivências. Diverti-me muito, interpretando a Mitó.

M.L: Como é que surgiu o convite para participar nesta longa-metragem?
A.R: Participei, como atriz, na curta-metragem “A Cartomante” que foi produzida, durante o Festival de Cinema “Ver e Fazer Filmes” e o diretor Zezé Gamboa foi o diretor supervisor desse trabalho. Foi daí que surgiu o convite.

M.L: Como foi trabalhar com Zezé Gamboa?
A.R: É uma delícia trabalhar com o Zezé, ele é um grande Ser Humano, divertido, generoso e um diretor que sabe o que quer.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
A.R: Ao contrário do que muitas pessoas pensam, ser ator requer muita disposição para trabalhar, estudar e insistir. É preciso, também, uma certa habilidade para lidar com as frustrações.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como atriz?
A.R: Nunca foi fácil para mim, sempre fui construindo degrau por degrau, mas estou feliz por estar produzindo, recebendo convites e atuando. Contente por estar fazendo o que gosto. Saldo positivo!

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
A.R: Atualmente, estou ensaiando um novo monólogo que conta a história de uma mulher que cansada de abrir mão dos seus desejos em função dos outros, resolve fazer uma reunião interna com todos os seus Eus. A estreia será em Belo Horizonte no dia 3 de Julho.ML

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Brevemente...

Entrevista com... Adriana Rabelo (Atriz)

Mário Lisboa entrevista... Maria João Pinho

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Maria João Pinho. Natural de Braga, tem desenvolvido um brilhante percurso como atriz, sendo um dos nomes mais versáteis da nova geração de atores, da qual passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Dei-te Quase Tudo" (TVI), "Doce Fugitiva" (TVI), "Casos da Vida" (TVI), "Rebelde Way" (SIC), "A Vida Privada de Salazar" (SIC) e "Conta-me como foi" (RTP) e recentemente participou nas peças "Chove em Barcelona" e "A Estalajadeira" e atualmente participa na peça "O Campeão do Mundo Ocidental" de J. M. Synge, com encenação de Jorge Silva Melo e está em cena no Teatro Nacional D. Maria II até ao próximo dia 9 de Junho. Esta entrevista foi feita no dia 8 de Outubro de 2012, na Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira, na altura em que a entrevistada estava no Porto, com a peça "Chove em Barcelona", que esteve em cena no Teatro Experimental do Porto.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
M.J.P: Surgiu, quando vi uma peça de teatro no (Teatro Nacional) São João, mas ainda não sabia que iria entrar nesse universo. Depois, quando entrei na Faculdade em Bragança, entrei no TEB (Teatro de Estudantes de Bragança) e conheci a Helena Genésio (atualmente, a Diretora do Teatro Municipal de Bragança) e começamos… Fiz um curso de Iniciação Teatral e fui ficando e passados dois anos decidi, então, desistir do curso que estava a tirar na Faculdade e estudar Interpretação e fui estudar para o Porto.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
M.J.P: Há vários atores. Em Portugal, tenho como referência, a Maria João Luís… a Sandra Faleiro (gosto muito do trabalho dela), Ana Brandão, o Miguel Borges, Pedro Gil (que eu gosto muito), a Carla Galvão (que eu adoro também)… Há assim várias pessoas, há vários colegas que eu gosto de seguir e de acompanhar, mas que os distingo perfeitamente, que não sigo, porque somos muito diferentes…

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
M.J.P: Depende, porque eu gosto dos três (de maneiras diferentes). Ambos têm encantos diferentes… A televisão pode ser muito violenta, porque é muito rápida (numa novela, por exemplo) e nesse sentido é mais difícil e menos prazeroso, porque não há tempo para trabalhar cenas e é mais difícil. Ao mesmo tempo é uma escola muito forte, porque nos dá capacidade de treino. O Cinema, para mim, é poesia, porque gosto imenso. Gosto muito dessa relação com a câmara, com o realizador, normalmente, pelo menos das experiências que tive… E das experiências que tive, felizmente, tive a sorte de ter vivido bons momentos no Cinema. No Teatro, há uma outra magia que é esta relação viva com o público e isso é, para mim, muito forte e importante e realmente vivo, portanto eu tenho uma paixão pelos três, mas são paixões diferentes.

M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
M.J.P: No Cinema, o que mais me marcou foi um filme que ainda não estreou com o realizador Vítor Gonçalves e foi, de fato, um trabalho muito especial. Adorei trabalhar com ele, adorei a equipa, trabalhei com o Filipe Duarte que é um colega maravilhoso, adorei o texto, marcou-me imenso… Também me marcou imenso ter trabalhado com o Raoul Ruiz e com o Fernando Lopes. Depois, em teatro, o que realmente marca é o primeiro, porque é o impacto com o público e dou como referência “A Castro” que eu fiz ainda em Bragança. Ainda não tinha sequer formação, foi antes de eu ir para a escola, mas foi a primeira experiência, foi o primeiro contato com um texto literário, foi o primeiro contato com o público e foi um grande impacto para mim e foi o que mais me marcou.

M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão foi o telefilme “Todos os Homens Nascem Iguais” da série “Casos da Vida” (TVI), onde interpretou a personagem Isabel. Que recordações guarda desse trabalho?
M.J.P: Nesse trabalho fazia uma cega. Foi muito forte fazer essa personagem, porque fazer uma personagem invisual (felizmente, eu tenho esta capacidade de ver) foi muito delicado. Eu não fiz uma pesquisa específica, porque eu acho que vou pesquisando todos os dias, em contato com as pessoas e infelizmente, principalmente em Lisboa, eu vejo imensos invisuais na rua, no Metro… Portanto, eu já tinha essa memória cá dentro, como é que são, como é que há uma postura, qual é a postura física, como é que funciona o corpo… Depois, fiz pesquisa em filmes, vi imensos filmes com personagens cegas também e por isso foi essencialmente marcante, porque foi a primeira experiência que tive nesse sentido.

M.L: O telefilme foi realizado por Nicolau Breyner. Como foi trabalhar com ele?
M.J.P: Foi muito bom. Respeitou-nos imenso, o Nicolau é um senhor que anda aqui há imensos anos e que sabe imenso… Portanto, respeitou-nos, enquanto atores mais jovens, deixou-nos propor e orientou-nos muito bem.

M.L: Qual foi o momento que mais a marcou, durante o seu percurso como atriz?
M.J.P: Não sei. Não consigo nomear um, há várias experiências que nos vão marcando, que nos vão fazendo pensar… Por exemplo, ainda ontem (dia 7 de Outubro de 2012) no espetáculo “Chove em Barcelona”, houve uma pessoa na plateia, num momento em que eu estou de frente para o público, que desmaiou e foi um momento que me marcou imenso… Ainda por cima, essa pessoa estava sentada ao lado da minha mãe, eu pensava que era uma amiga minha e estava a fazer a cena e a pensar: “Eu vou ter que parar o espetáculo, porque esta pessoa está a sentir-se mal”… E entrei em pânico total e é essa vida no teatro de quem lá está, há várias situações que nos vão marcando.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
M.J.P: Como sabemos, nós vivemos um momento nada fácil, acho que nunca foi fácil, não acho que só agora que esteja a ser difícil… Infelizmente, a Cultura no nosso país não é acarinhada, não é bem tratada e neste momento é muito triste perceber que não há condições, já não havia muitas condições, mas neste momento sente-se que nos querem mesmo aniquilar e isso é muito triste.

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
M.J.P: Nunca pensei nisso, eu gosto do meu país (quer dizer, já pensei nisso)… Mas, enquanto atriz, é óbvio que seria muito bem-vindo, uma experiência de raiz lá fora, porque eu já estive noutros países, mas com espetáculos feitos cá… É óbvio que eu adorava fazer, mas eu não tenho essa possibilidade de sair daqui e trabalhar como atriz lá para fora definitivamente, porque eu não quero desistir do meu país.

M.L: Vive em Lisboa, mas nasceu em Braga. Já alguma vez se arrependeu de ter decidido ir viver para Lisboa?
M.J.P: Não, não me arrependo. É óbvio que eu sinto falta do Norte, porque fui para Lisboa com 27, 28 anos… Mas o que acontece é que tenho aqui os meus amigos, a minha família, as minhas raízes, eu sinto muito como uma pessoa do Norte, porque sou de cá, é natural que assim seja… Mas, neste momento, Lisboa é o que faz sentido, a nível profissional, não foi uma cidade fácil, quando cheguei, mas, felizmente, o Ser Humano têm esta capacidade extraordinária de se adaptar e eu adaptei-me e vivo lá e estou bem lá (pelo menos, para já)…

M.L: Em 2010, trabalhou com Raoul Ruiz em “Mistérios de Lisboa”, que foi a última longa-metragem realizada por ele e baseada na obra de Camilo Castelo Branco (o realizador faleceu em Agosto de 2011, quando estava a preparar a longa-metragem “Linhas de Wellington” (2012), tendo sido substituído pela sua esposa Valeria Sarmiento). Que recordações guarda dele?
M.J.P: Tudo de bom. Desde o primeiro momento da entrevista, quando estava a fazer casting para os atores, com quem queria trabalhar… Uma pessoa muito afável, muito educada, muito centrada, sabendo perfeitamente o que é que queria, com um universo incrível, uma imaginação… Parecia uma criança num corpo de adulto, tinha um imaginário sem fim… Estar com ele no plateau era supertranquilo, porque ele tinha essa paz e vivia o que queria… A equipa também era maravilhosa e fiquei, realmente, muito triste com a partida do Raoul, porque só tenho boas memórias dele…

M.L: Já alguma vez imaginou que “Mistérios de Lisboa” tivesse o sucesso que teve?
M.J.P: Não, nunca pensei. Não penso no resultado, penso no que estou a fazer na hora, mas já sabia, como era uma coprodução, que o filme iria ser visto noutros países, mas nunca pensei que fosse tão bem acolhido… Acho que é merecido, acho que é um excelente trabalho e digo, não, porque participei nele, mas porque, realmente, acho que é um ótimo filme… Mas nunca pensei, fiquei muito contente, por ter amigos, por exemplo, em Paris, que foram ao cinema ver-me e falarem-me das reações das pessoas de lá… Nunca tinha tido essa experiência e, sinceramente, gostei…

M.L: Qual foi a pessoa que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
M.J.P: A Helena Genésio foi a pessoa que me fez mudar de vida, foi com quem comecei a representar…

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como atriz?
M.J.P: Faço um balanço positivo. Claro que há momentos muito maus e já os tive e vou ter, porque faz parte, é um trabalho muito inconstante, muito instável… Mas, eu só posso fazer um balanço positivo, do tempo que tenho de trabalho, por onde já passei, com quem já trabalhei…

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
M.J.P: Há tantas coisas que eu ainda quero fazer e que ainda não fiz.ML

terça-feira, 21 de maio de 2013

Brevemente...

Entrevista com... Maria João Pinho (Atriz)

Mário Lisboa entrevista... Paula Moura Pinheiro

Olá. A próxima entrevista é com a jornalista Paula Moura Pinheiro. Desde muito cedo que se interessou pelo jornalismo, sendo, atualmente, uma das figuras mais versáteis do jornalismo português, e trabalhou na imprensa, na rádio e na televisão, tendo trabalhado na SIC e atualmente trabalha na RTP, onde, recentemente, apresentou o programa "Câmara Clara" que foi exibido na RTP2 entre 2006 e 2012. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 15 de Abril.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
P.M.P: Desde muito cedo me interessei pelo mundo e pelos seus destinos.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto jornalista?
P.M.P: Os bons jornalistas. Variaram ao longo dos anos.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o seu percurso como jornalista?
P.M.P: Algumas das entrevistas e reportagens que fiz. Foram muitas.

M.L: Trabalhou na imprensa, na rádio e na televisão. Qual destes meios de comunicação que lhe dá mais gosto de trabalhar?
P.M.P: Comecei na imprensa e a escrita continua a ser a base do meu trabalho seja qual for o meio em que estou.

M.L: Na televisão, trabalhou na SIC e atualmente trabalha na RTP. Que balanço faz do tempo em que está no canal?
P.M.P: Colaboro com a RTP há mais de 15 anos e pertenço aos quadros da empresa há quase oito anos. Genericamente, a RTP evoluiu para muito melhor ao longo desses anos.

M.L: Como vê, atualmente, a RTP?
P.M.P: Vive um impasse, como todo o país e a Europa.

M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em Portugal?
P.M.P: Atravessa uma crise aguda que tem a ver, simultaneamente, com a crise financeira e económica e com a ineficiência do sistema de justiça.

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
P.M.P: Nunca pensei nisso. Gosto de ser portuguesa e de trabalhar em Portugal.

M.L: Entre 2006 e 2012, apresentou o programa “Câmara Clara” que foi exibido na RTP2. Que balanço faz do tempo em que conduziu o programa?
P.M.P: Foi uma experiência muitíssimo gratificante.

M.L: Como vê, atualmente, Portugal e o Mundo?
P.M.P: Em crise.

M.L: Qual foi a pessoa que a marcou, durante o seu percurso como jornalista?
P.M.P: Foram várias.

M.L: Como vê o futuro da Comunicação Social em geral nos próximos anos?
P.M.P: Depende da evolução da situação financeira e económica.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira no jornalismo?
P.M.P: Que cultive a sua curiosidade, procurando saber sempre mais sobre todos os assuntos e que leia muito.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como jornalista?
P.M.P: Tem sido muito gratificante.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
P.M.P: Continuar a fazer coisas em que acredito.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
P.M.P: Um documentário.ML

domingo, 19 de maio de 2013

Brevemente...

Entrevista com... Paula Moura Pinheiro (Jornalista)

Mário Lisboa entrevista... Susana Vitorino

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Susana Vitorino. Desde muito cedo que se interessou pela representação, tendo-se estreado como atriz em 1995, com a peça "A Serpente" de Nelson Rodrigues, e desde aí tem desenvolvido um percurso como atriz que já conta com quase 20 anos de existência, da qual passa, essencialmente, pelo teatro e pela televisão (onde entrou em produções como "Primeiro Amor" (RTP), "Ajuste de Contas" (RTP), "Olhos de Água" (TVI), "Bastidores" (RTP), "Tudo por Amor" (TVI), "O Prédio do Vasco" (TVI) e "Rebelde Way" (SIC) e além da representação, também é encenadora, diretora de atores, autora, terapeuta e formadora profissional e, recentemente, fez uma breve participação na telenovela "Dancin' Days" que está em exibição na SIC, da qual marcou o seu regresso à televisão, depois da sua participação na série "Rebelde Way". Esta entrevista foi feita no passado dia 11 de Fevereiro.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
S.V: Desde pequenina que dizia que queria ser atriz. Eu fui sempre expressando esta vontade, embora o meu percurso académico tenha sido outro, porque fiz outro curso. Quando ainda estava na faculdade, surgiu a oportunidade e comecei a fazer cursos de teatro. Já era uma vontade que eu tinha desde muito pequenina.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
S.V: Os atores que me inspiram são pessoas em quem eu sinto força, em quem eu sinto intensidade, são pessoas que mergulham no seu trabalho profundamente… A nível internacional: a Meryl Streep (é uma atriz que me inspira bastante), a Kathy Bates, a Helen Hunt, a Helen Mirren, a Angelina Jolie, o Al Pacino, o Gene Hackman, o Philip Seymour Hoffman, o Brad Pitt (é um ator que admiro muito, que não tem medo de fazer o quer que seja, não tem medo de parecer feio, não tem medo de parecer ridículo…). Basicamente, é isto: um conjunto de atores que não têm medo de mergulhar fundo. A nível nacional, gosto muito do trabalho da nossa Eunice Muñoz e de gerações mais jovens… Também há pessoas, das quais admiro muito o trabalho. Pessoas com quem tenho tido o prazer e o privilégio de trabalhar. Essas, também me inspiram bastante.

M.L: Durante o seu percurso como atriz, fez teatro e televisão, mas pouco cinema. Gostava de trabalhar mais neste género?
S.V: Gostava muito de fazer cinema. Fiz curtas-metragens e fiz 2 telefilmes (um português e um para o estrangeiro) e gostava muito, mesmo, de experimentar o cinema.

M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
S.V: No teatro, houve coisas distintas: marcou-me ter feito o papel de Marilyn Monroe, tinha uma pesquisa feita por mim e um texto também escrito por mim. Por ser uma pessoa que existiu, por ser um grande ícone e é sempre uma grande responsabilidade estarmos a fazer alguém que existiu e isso marcou-me muito. E também me marcou muito um trabalho que eu fiz, intitulado “Manual Sexual”, com encenação de Estrela Novais, com José Boavida, o Carlos Lacerda e a Joana Faria… E a minha estreia: “A Serpente” do Nelson Rodrigues. Foram trabalhos no teatro que me marcaram bastante. Em televisão, marcou-me muito a série “Bastidores” (RTP) que passou, recentemente, na RTP Memória. Marcou-me bastante, gostei muito de fazer…

M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão foi a telenovela “Primeiro Amor” que foi exibida na RTP, durante o ano de 1996 e marcou a sua estreia na televisão, da qual interpretou a personagem Rita. Que recordações guarda desse trabalho?
S.V: Guardo muito boas recordações. Não só guardo recordações, como amizades também. Por exemplo, fiquei com uma amizade, para toda a vida, com o Eurico Lopes, que era o meu “primeiro amor”. Na telenovela ele era a minha contracena e era o meu par romântico. Já trabalhamos juntos várias vezes em teatro e em televisão, conseguimos ter uma grande amizade. Foi uma experiência marcante, eu era uma miúda, já fazia teatro, mas nunca tinha feito televisão. Era tudo novo, tudo muito grande e assustador. Hoje em dia, como há muitos castings, os jovens atores já estão mais habituados, mas eu não! Para mim foi uma prova de fogo, que me trouxe coisas boas.

M.L: Qual foi o momento que mais a marcou, durante o seu percurso como atriz?
S.V: Há tantas coisas, já são 18 anos de carreira… Há amizades que marcam… Eu gosto sempre mais de recordar as coisas boas, do que as menos boas. Mas é claro que estas também marcam. Em relação àquilo que me marcou pela positiva, volto a falar da peça “Manual Sexual”, que estreou no ano da Expo'98. Gostei muito deste trabalho, porque nunca tinha feito café-teatro e foi uma experiência muito forte. Aliás, tudo em Lisboa foi muito forte nesse ano, tão forte que acabámos por ir fazer a peça ao Palco 2 da Expo. Foi uma experiência muito mágica!

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
S.V: Sim, gostava.

M.L: Em 2013, celebra 18 anos de carreira, desde que começou com a peça “A Serpente” de Nelson Rodrigues, no Teatro Ibérico, em 1995. Que balanço faz destes 18 anos?
S.V: Têm sido uns 18 anos muito irregulares… Tem sido uma viagem num jipe, num daqueles jipes de todo-o-terreno que atravessam África, cheios de pedras, com muita terra metida. Tem sido assim, um bocadinho, o meu percurso. Tem sido irregular, mas com muita aprendizagem e muito crescimento.

M.L: Além da representação, também é encenadora, diretora de atores, autora, terapeuta e formadora profissional. Em qual destas funções em que se sente melhor?
S.V: Eu gosto delas todas. Eu misturo tudo, gosto de misturar todo o meu caldeirão. São coisas distintas. Como formadora, eu tenho a oportunidade de me pôr à prova, de perceber o que já aprendi, o que desaprendi, porque, quando se diz que só, quando se ensina, se aprende, é uma grande verdade. E quando comecei a ensinar, foi quando percebi que isto é uma dinâmica em que estamos sempre a aprender. Estamos sempre a aprender sobre nós próprios. Portanto, enquanto formadora, ajudar os outros seres humanos a criar coisas e a crescer, dá-me um grande prazer. Como encenadora e diretora de atores, passa, um bocadinho, pela mesma coisa que é ver os outros a crescerem. Como atriz, é um prazer muito grande, é outra dinâmica, dentro de mim, é isto, o meu outro lado e sou eu desafiada. A escrita sempre foi uma paixão, mas, embora tivesse muita gente à minha volta a dizer-me para escrever, eu escrevia por prazer. Nunca tinha considerado a escrita como uma possibilidade de profissão, mas, cada vez mais, vou entrar nesse sentido e, nomeadamente, a escrita para teatro e para cinema que, mais uma vez digo, é um grande prazer! Também me sinto muito bem como terapeuta e como astróloga, porque são tudo partes de mim. Alguns pensam que deixei a carreira de atriz para me dedicar à astrólogia, mas não é verdade! Como vivemos numa sociedade depressiva de rótulos, eu sou isto tudo, tudo faz parte de mim! Gosto de todas as vertentes!

M.L: Recentemente, fez uma breve participação na telenovela “Dancin’ Days” que está em exibição na SIC, da qual marcou o seu regresso à televisão, depois da sua participação na série “Rebelde Way” que foi exibida na SIC entre 2008 e 2009. Como correu este trabalho?
S.V: Bem. Senti-me feliz, por poder regressar, e por poder participar num projeto com tanta qualidade como “Dancin’ Days”. Soube-me a pouco, mas foi muito bom fazer. Gostei muito.

M.L: É agenciada pela H!T Management que foi fundada por Ana Varela e que pretende ser uma agência inovadora, da qual os seus agenciados são, em grande parte, atores com menor visibilidade. Como vê o percurso que a agência tem feito, desde a sua fundação até agora?
S.V: Muito bom. Eu tenho um grande orgulho na (Ana) Varela e no João Louro, que são os meus agentes. São jovens muito trabalhadores e muito conscientes do mercado que temos, muito ciosos dos seus atores. Isso é muito bom! Sinto-me muito acarinhada por eles.

M.L: Recentemente, as telenovelas “Remédio Santo” da TVI e “Rosa Fogo” da SIC foram nomeadas para o Emmy Internacional na categoria de Telenovela. Como vê este reconhecimento internacional?
S.V: Achei positivo. É uma forma do nosso nome ir lá fora, dos nossos artistas também se poderem revelar e expor lá fora. Isso significa que há algum selo de qualidade. Embora eu defenda que se pode crescer sempre mais. Mas, esses produtos eram bons produtos de ficção e fico feliz por terem sido reconhecidos, por isso.

M.L: Qual foi a pessoa que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
S.V: Foram tantas. Eu tenho o privilégio de ainda ser de uma geração que conheceu outras gerações. Eu ainda tive o privilégio de trabalhar e conhecer o Armando Cortez, a Maria Dulce, o Pedro Pinheiro, o Francisco Nicholson, o António Montez, o João Perry… É uma escola viva e isso, para mim, foi muito importante, também poder conhecer pessoas que eram os meus ídolos e que de outra forma não os podia conhecer, como o Nicolau Breyner, com quem trabalhei mais do que uma vez. Isso é muito marcante!

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
S.V: Cinema, sem dúvida. Também gostava muito de poder fazer um curso lá fora, como aluna, gostava de fazer um curso nos EUA, particularmente ligado à escrita.ML

Fotografia: Fernando Dinis