terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Mário Lisboa entrevista... Lucinda Loureiro

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Lucinda Loureiro. Natural de Viseu, desde muito cedo que se interessou pela representação tendo-se estreado como atriz em 1977 com A Centelha-Grupo de Teatro e desde aí desenvolveu um interessante e versátil percurso com 36 anos de existência que vão ser celebrados em 2013 da qual passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Ballet Rose-Vidas Proibidas" (RTP), "Jardins Proibidos" (TVI), "Capitão Roby" (SIC), "A Senhora das Águas" (RTP), "Coração Malandro" (TVI), "João Semana" (RTP), "Doce Fugitiva" (TVI), "Liberdade 21" (RTP) e "Morangos com Açúcar" (TVI) e além da representação também é encenadora e diretora de atores (desempenhou essa função por exemplo na telenovela "Meu Amor" que foi exibida na TVI entre 2009 e 2010 e ganhou em 2010 o Emmy Internacional na categoria de Telenovela) e atualmente trabalha como diretora de atores na telenovela "Destinos Cruzados" da autoria de António Barreira (que escreveu por exemplo "Meu Amor" e "Remédio Santo" (TVI), onde também assumiu a direção de atores e em 2012 foi nomeada para o Emmy Internacional na categoria de Telenovela) e que vai estrear na TVI neste mês de Janeiro. Esta entrevista foi feita por via email no passado dia 25 de Dezembro.

M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
L.L: Começou muito cedo ao ver televisão, cinema e também, porque muitos dos meus avós e tios-avós, meu pai e minha mãe tinham vários talentos: música, pintura, fotografia, gosto pelo teatro e o espetáculo. Acho que estava inscrito nos genes.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
L.L: Se queres dizer atores que me influenciaram, direi que a Eunice Muñoz, a Isabel de Castro (que já não é viva), a Márcia Breia, a Lia Gama, etc. Estrangeiras: Bette Davis, Anna Magnani, Meryl Streep, Glenn Close, Gena Rowlands…

M.L: Fez teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
L.L: Teatro, sem dúvida. Sinto como se estivesse em casa e essa casa fosse um palácio. Depois, o cinema. E aprendi a gostar de Televisão. O mais importante é trabalhar e fazer bem e ter bons papéis e bons diretores.

M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
L.L: Não consigo destacar só um, mas direi que em teatro foram: A minha estreia ("Guerras do Alecrim e Manjerona”), as duas versões de “Marquesa de Sade” e por último, as “Dentadas”.

M.L: Já fez telenovelas. Este é um género televisivo que mais gosta de fazer?
L.L: Como já disse, o que gosto mais de fazer é Teatro. Mas dentro do género de produtos de televisão gosto de fazer séries.

M.L: Como lida com a carga horária, quando grava uma telenovela?
L.L: Como atriz tive a sorte de fazer papéis que não gravava todos os dias, o que tornou o trabalho só um prazer. Ia todos os dias trabalhar feliz. Quando estou a fazer direção de atores já é diferente, fico mais cansada, há dias muito difíceis, mas quando chego a casa é rara a vez em que sinto que não dei o meu melhor.

M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão foi a telenovela “A Senhora das Águas” (RTP), onde interpretou a personagem Ondina de Jesus Trolha. Que recordações guarda desse trabalho?
L.L: De “A Senhora das Águas” guardo as melhores recordações. 1ª: a minha personagem era muito maluca, divertida e também tinha um bocadinho de maldade, o que enriquecia imenso as situações. Depois, porque gravei os exteriores na vila de Santar ao lado de Viseu, onde passei parte da minha infância. Depois, os meus colegas e a equipa eram do melhor. Grandes profissionais e gente boa.

M.L: “A Senhora das Águas” contou com a participação dos atores brasileiros Oscar Magrini e Juliana Baroni. Como foi trabalhar com eles?
L.L: Para mim trabalhar com os meus colegas brasileiros foi igual a trabalhar com qualquer outro ator. Fiquei amiga do Oscar Magrini. E para quem como eu já trabalhou em filmes com a participação (por exemplo) de atores franceses como Gerard Depardieu ou Olivier Martinez foi ainda mais fácil, porque falavam a mesma língua…

M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
L.L: Quando passamos por um momento tão difícil quer em termos económicos, quer em termos culturais devo dizer que estou muito preocupada. Têm havido cortes financeiros muito significativos. Alguns até  podem vir a dar resultados positivos, porque inquietam e a inquietação é um dos motores para a criação. Mas a falta de dinheiro é muito limitativa para a produção quer de teatro, quer de televisão e cinema. Obriga a elencos mais pequenos, a menos exteriores, menos eventos na estrutura dos guiões, o que empobrece muito o produto final. Em televisão gostava de ver mais series.

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
L.L: Carreira internacional, gostava imenso de ter trabalho com o (Pedro) Almodóvar. Com o (Ingmar) Bergman, por exemplo. Mas já tive mais pena. Temos agora em Portugal, tanta gente boa e talentosa que era só deixarem fazer, darem meios financeiros, os prémios que se ganham lá fora dizem tudo.

M.L: Em 2013 celebra 36 anos de carreira desde que se estreou com A Centelha-Grupo de Teatro em Viseu no ano de 1977. Que balanço faz destes 36 anos?
L.L: O balanço do meu trabalho é positivo, porque mesmo tendo passado por imensas dificuldades no passado, continuo a representar, a encenar e a dirigir atores. Para uma miúda que saiu de Viseu, sem qualquer preparação e sem pertencer a nenhum lobby é muito bom e compensador, o que consegui realizar.

M.L: Além da representação também é encenadora e diretora de atores. Qual destas funções em que se sente melhor?
L.L: Mais uma vez o que gosto mesmo de fazer e onde me sinto como peixe na água é a representação. Tudo o que diga respeito à minha arte que me apaixone e impulsione de modo a que me sinta capaz de fazer e de fazer minimamente bem e com verdade e dignidade, por mim é só para tirar satisfação. Longe vão os tempos em que ficava muito frustrada ou zangada.

M.L: Entre 2009 e 2010 assumiu a direção de atores da telenovela “Meu Amor” que foi exibida na TVI e em 2010 ganhou o Emmy Internacional na categoria de Telenovela. Como é que se sentiu ao saber que a telenovela ganhou o prémio?
L.L: Saber que o “Meu Amor”: 1º que tinha sido nomeado e depois que tinha ganho o Emmy foi uma alegria imensa. Mas não foi uma surpresa muita grande, porque eu acreditava na novela que estávamos a trabalhar, na história e no elenco e na equipa. Como fiz a novela sozinha (quero dizer não tive assistência na direção, o que foi muito, muito cansativo) fiquei duplamente contente e orgulhosa e com um grande sentido de responsabilidade para fazer melhor nos projetos que se seguiram como o “Remédio Santo” (TVI) -também nomeada- e agora na nova aposta da TVI…

M.L: Qual foi a pessoa que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
L.L: Não consigo responder qual a pessoa que me marcou, foram várias. Por vezes, pessoas que nem sequer eram atores ou realizadores ou encenadores. O ato criativo é muito complexo e as relações humanas também.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
L.L: 1º conselho: Trabalho. 2º conselho: Trabalho. 3º: Divertimento. 4º: Formação. 5º: Estar atento ao trabalho dos mais velhos. 6º: Ver muitos espetáculos, pintura, música, cinema. 7º: Observar, ouvir, sentir.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
L.L: Estou neste momento a fazer direção de atores na nova novela da TVI “Destinos Cruzados”. E ideias e projetos há. Vontade de fazer coisas também. Agora, vamos começar a reunir as condições para o fazer, por isso logo se verá o que se realiza primeiro. Quer teatro, quer cinema. Pode ser que os deuses estejam comigo.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
L.L: A nível pessoal gostava de viajar mais, conhecer outras culturas, ter outras memórias, outros cheiros e cores na minha gaveta de emoções para usar para as personagens e para me enriquecer como humana. No ponto de vista profissional, gostava de ter feito alguns papéis que já não tenho idade para os fazer como a “Julieta” ou a “Nina” de “A Gaivota”. Em cinema, papéis que implicassem boas condições físicas, de ação… Mas em teatro, ainda gostava de fazer a “Medeia” e a “Lady Macbeth”.ML

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