segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

"O Que os Olhos Não Vêem"


Olá. O "Mário Lisboa entrevista..." têm o prazer de apoiar "O Que os Olhos Não Vêem", uma longa-metragem de terror realizada e escrita por Pedro Horta (http://www.mlisboaentrevista.blogspot.pt/2013/09/mario-lisboa-entrevista-pedro-horta.html) e protagonizada por Sofia Reis (http://www.mlisboaentrevista.blogspot.pt/2011/12/mario-lisboa-entrevista-sofia-reis.html), Sara Quintela, Lourenço Seruya, Marta Taborda e João Roncha, cuja estreia está prevista para 2014.

A seguinte sinopse de "O Que os Olhos Não Vêem":

"Quatro amigos da Faculdade de Cinema de Lisboa pregam partidas uns aos outros como forma de praxe. 

Numa dessas partidas, libertam uma entidade paranormal de um livro de feitiços.

Num determinado fim-de-semana, quando vão filmar numa casa de campo isolada em Portugal, um deles começa a revelar sinais de possessão e todos eles começam a suspeitar uns dos outros. 

Todos são condenados por essa força desconhecida, mas um deles resiste e pode ter a chave para a solução."


Mário Lisboa

Mário Lisboa entrevista... Dina Santos

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Dina Santos. Desde muito cedo que se interessou pela representação, e tem desenvolvido um percurso como atriz que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão. Ao longo do seu percurso como atriz, tem apostado na formação, sendo também formadora, e, em Janeiro de 2014, vai estrear o espetáculo "Da Sé p'ró Cabaret!" que é produzido pela associação cultural Gota TeatrOficina, da qual participa. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 24 de Maio.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
D.S: O meu interesse pela representação vem, desde miúda, ainda antes da escola primária. Eu falava sozinha e imaginava que tinha uma plateia à minha frente… Depois vieram as “festinhas” escolares e o “bichinho” da representação ia ficando cada vez maior!!!

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
D.S: Aprecio vários atores e atrizes nacionais e estrangeiros (não vou citar nomes). Sempre que os vejo absorvo, ao máximo, o seu profissionalismo, a sua maneira de trabalhar, tento inspirar-me e aprender com eles.

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que mais gosta de fazer?
D.S: Um ator/atriz só o é, verdadeiramente, quando experimenta todos os registos que, sendo diferentes entre si, também se complementam. No teatro, temos o feedback do público logo no momento, e é uma sensação indescritível! O cinema é magia, é pormenor, é o grande ecrã… A televisão é, normalmente, um produto de consumo imediato, mas com a vantagem de chegar a um maior e mais abrangente número de pessoas… Portanto, gosto de todos, é difícil e seria injusto eleger um registo, embora confesse que amo o palco!!!

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o seu percurso como atriz?
D.S: Todos os trabalhos marcam um ator, de uma maneira ou outra, ou porque é um texto maravilhoso, ou porque o processo de construção da personagem foi mais elaborado, enfim… Mas houve uma peça de teatro chamada “Mãe Terra” que foi, realmente, especial!

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
D.S: Vejo com alguma apreensão, mas também com esperança… Temos bons atores, bons argumentistas, bons técnicos… Contudo, a Cultura continua a ser menosprezada… Eu como sou uma pessoa otimista, acho, e quero acreditar que é apenas uma fase menos boa

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
D.S: Sim. Todos os colegas que eu conheço, e aqueles que ainda não conseguiram, gostavam de fazer uma carreira internacional, eu não sou diferente…

M.L: Tem apostado na formação, durante o seu percurso como atriz. Na sua opinião, a formação é importante para o desenvolvimento do ator?
D.S: A formação é essencial!!! Como em todas as profissões, estudar é muito importante. Depois é trabalhar, porque é fazendo que, realmente, se aprende… Acho tão importante a formação que também sou formadora…

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
D.S: Eu, por brincadeira, costumo dizer que só vai para ator quem é louco, mas se é, realmente, isso que quer, então vá em frente, faça formação, prepare-se para ouvir muitos “nãos”, mas, acima de tudo, acredite e nunca desista.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
D.S: Ainda é cedo para falar deles.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
D.S: Dar a volta ao Mundo.ML

sábado, 28 de dezembro de 2013

Brevemente...

Entrevista com... Dina Santos (Atriz)

Mário Lisboa entrevista... Alexandre Ferreira

Olá. A próxima entrevista é com o ator Alexandre Ferreira. Desde muito cedo que se interessou pela representação, tornando-se num dos mais versáteis e interessantes talentos do panorama artístico português que surgiram nos últimos anos. Apaixonado pelo que faz, sempre foi muito influenciado por atores como Marlon Brando, Al Pacino e Robert DeNiro, e tem desenvolvido um percurso como ator que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Residencial Tejo" (SIC), "Anjo Selvagem" (TVI), "Ninguém como Tu" (TVI), "Jura" (SIC), "A Outra" (TVI), "Casos da Vida" (TVI), "Rebelde Way" (SIC), "Conta-me como foi" (RTP), "Morangos com Açúcar" (TVI) e "Destinos Cruzados" (TVI), e, recentemente, encenou a micropeça "Amanhã" de Frederico Pombares e Joana Gama e protagonizada por André Nunes e Vânia Naia, da qual esteve em cena no Teatro Rápido, durante o passado mês de Junho. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 15 de Outubro.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
A.F: Surgiu, desde muito novo. A primeira vez que pensei, a sério, nisto tinha 9 anos: foi a representar o conto da Sopa da Pedra na 4ª classe. Eu era aquele miúdo lá atrás na sala de aula, muito metido para comigo e, de repente, estava toda a gente a olhar para mim, atentos a tudo o que eu fazia, a rirem-se e descobri que me sentia muito bem em cima do palco. Ali podia exprimir-me à vontade.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto ator?
A.F: Sempre vi muita televisão e muito cinema, sempre que podia. Sem saber, sempre fui muito influenciado pelos atores do Método como o Marlon Brando, o Al Pacino, o Robert DeNiro. Sempre lhes achei alguma coisa de especial na representação deles, sempre ambicionei ser como eles, fazer o que eles faziam. E, curiosamente, mais tarde, estive, de facto, a estudar o Método do Actors Studio no The Lee Strasberg Theatre and Film Institute, durante ano e meio, em Nova Iorque. Uma experiência única graças a uma bolsa de estudo da Fundação Calouste Gulbenkian.

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que mais gosta de fazer?
A.F: Gosto de todos. Cada qual tem a sua especificidade. Na televisão, adoro a rapidez, o stress constante, o tentar sempre fazer depressa e bem. A maioria das pessoas não sabe, mas em televisão, fazem-se milagres a maior parte do tempo. Gosto do cinema, porque há um maior cuidado com a imagem e com o trabalho do ator, porque costuma haver mais tempo. Mas tempo é dinheiro... E gosto de teatro, porque existe aquela sensação de festa de acontecimento único, de partilha com o público, aquela sensação de que estamos todos ali, ao mesmo tempo, a viver a mesma coisa, a respirar o mesmo ar e a evocarmo-nos uns aos outros. Gosto muito desse sentido de comunhão com o público que só se obtém no teatro.

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o seu percurso como ator?
A.F: Em teatro, foi o meu segundo trabalho profissional em que trabalhei com o grupo catalão Els Comediants, onde esforcei-me para dar o meu melhor e eles também. Gosto, quando há uma equipa de criativos e estão todos a remar para o mesmo porto que é um trabalho de excelência. Em televisão, foi a série “Residencial Tejo” (SIC), porque foi o meu primeiro projeto de longo curso e, sinceramente, aprendi muito com os erros que fiz. Era muito verde, não sabia bem o que estava a fazer. Aquilo era um misto de teatro e televisão e eu nunca soube bem o que estava a fazer.

M.L: Em 2005, participou na telenovela “Ninguém como Tu” que foi exibida na TVI, da qual interpretou a personagem Nuno Paiva Calado. Que recordações guarda desse trabalho?
A.F: “Ninguém como Tu” foi um projeto muito atribulado. Eu vim, diretamente, de Nova Iorque para Lisboa, para fazer o casting e fiquei com uma das personagens principais. Duas semanas de gravações depois, a equipa foi toda mudada e eu tive muita sorte em não ser despedido e ter só sido substituído. Vesti a pele do Nuno um bocadinho aos trambolhões, com alguma mágoa por ter sido substituído, não o nego. Talvez por isso, tenha sido o meu último trabalho, num elenco fixo, em televisão.

M.L: Já alguma vez imaginou que “Ninguém como Tu” tivesse o sucesso que teve?
A.F: Todos nós sabíamos que aquele projeto tinha qualquer coisa de especial. O texto era novo, os assuntos eram novos, os atores e técnicos tinham todos muita vontade de tornar aquilo num produto especial. Constituiu-se ali uma boa família, da qual ainda guardo muito boas recordações.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
A.F: No teatro, sei que há muita gente aflita, por causa dos subsídios. Eu não sou muito apologista dos subsídios, porque, raras vezes, beneficiei deles. Eu acho é que tem que haver risco e garra, da parte dos criadores. Acho que existe algum abuso, por parte de alguns criadores, em relação aos subsídios, que os faz virar as costas ao público. Acontece que eu não acredito que, sem público, haja teatro. Quanto à ficção nacional, vejo muita vontade de se fazerem coisas novas. Lamento que não haja mais produção nacional nos canais por cabo, porque isso abriria todo um nicho de mercado muito mais específico que os generalistas e podiam surgir propostas muito interessantes, tal como se faz no estrangeiro.

M.L: Recentemente, encenou a micropeça “Amanhã” de Frederico Pombares e Joana Gama e protagonizada por André Nunes e Vânia Naia, da qual esteve em cena no Teatro Rápido, durante o passado mês de Junho. Como correu este trabalho?
A.F: Foi muito positivo. É um trabalho muito duro, especialmente, para os atores que, cinco dias por semana, têm que reviver uma peça de 15 minutos, cinco vezes cada dia. Mas acho que ficámos todos muito satisfeitos com o resultado. 

M.L: Como é que surgiu a ideia de fazer esta micropeça?
A.F: Tudo partiu de uma vontade de fazer coisas. Basicamente, foi a Vânia Naia que teve a ideia de fazer um espetáculo no Teatro Rápido, que tem particularidades muito específicas. O texto foi uma encomenda e saiu-nos muito bem a encomenda. O texto da Joana Gama e do Frederico Pombares corresponde a um extraordinário espetáculo de 15 minutos. Depois, foi só encontrar mais um cúmplice: André Nunes, um extraordinário ator com quem queríamos trabalhar e que se mostrou disponível para isso. 

M.L: Como foi a reação do público a esta micropeça, durante a sua exibição?
A.F: Tivemos bastante público e as críticas foram muito positivas.

M.L: O Teatro Rápido foi fundado em Maio de 2012 e é um projeto da Encena-Agência de Atores. Como vê o percurso que o teatro tem feito, desde a sua fundação até agora?
A.F: Acho que tem crescido e perseverado e acho que muita gente tem lá feito belíssimos espetáculos e experiências performáticas que não teria oportunidade de efetuar de outra maneira. É uma boa casa, que acolhe, com muito carinho, todo o criativo que queira mostrar a sua arte.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
A.F: Se imaginar a fazer outra coisa, poupe-se o trabalho de ser ator. Ser ator é ser rejeitado, é não trabalhar, é estar constantemente a cair e a levantar. Quem não tenha estofo para isso, poupe-se o trabalho e faça outra coisa. Agora se não se imagina a fazer outra coisa, força, que os Deuses estejam contigo. Estuda, faz, estuda, faz e estuda e faz.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como ator?
A.F: Entre as tristezas e as alegrias, sou, felizmente, daqueles que não se pode queixar. Gostava de ter mais trabalho em televisão e cinema, mas tenho chegado à conclusão que, provavelmente, só o serei em projetos meus, só assim, se calhar, farei completamente o que quero fazer. Em relação ao teatro, tenho andado afastado do teatro propriamente dito, porque ando a descobrir uma outra arte: a arte da stand-up comedy. Comecei em 2011 e tem sido um enorme desafio e a minha grande paixão neste momento.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
A.F: Ando a tentar vender o meu espetáculo de stand-up comedy a solo que estreou em Julho no Teatro Villaret: “Extronauta”. E ando com ideias para projetos de ficção às voltas na cabeça.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
A.F: Tenho demasiados projetos e sonhos para o tempo que tenho. Idealmente, gostava de ter a minha própria companhia/produtora com o meu próprio espaço. A ver vamos.ML

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Brevemente...

Entrevista com... Alexandre Ferreira (Ator)

Mário Lisboa entrevista... Henrique de Carvalho

Olá. A próxima entrevista é com o ator Henrique de Carvalho. Neto do também ator Ruy de Carvalho,
desde muito cedo que se interessou pela representação, e tem desenvolvido uma promissora carreira como ator que passa, essencialmente, pelo teatro e pela televisão (onde entrou em produções como "Olhos de Água" (TVI), "Bons Vizinhos" (TVI), "Lua Vermelha" (SIC) e "Morangos com Açúcar" (TVI), e, recentemente, fez uma breve participação na telenovela "Destinos Cruzados" (TVI), onde interpretou a versão jovem da personagem interpretada pelo próprio avô nessa telenovela, e, entre 2012 e 2013, participou no espetáculo "Humor com Humor Se Paga!" que esteve em cena no Teatro Maria Vitória. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 9 de Julho.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
H.D.C: Desde muito novo, talvez pelo facto de ter na família muitos atores. Mas desde cedo que gostava de me imaginar na pele de personagens históricas e de as representar. Depois de fazer a novela "Olhos de Água" (TVI) recuei um pouco, não lidei bem com a fama (talvez por ser muito novo) e acabei por estar afastado, durante, aproximadamente, 4 anos, até ao dia em que decidi fazer da Arte da Representação a minha vida.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto ator?
H.D.C: Tenho muitas, talvez a mais marcante e mais óbvia, será o avô que tenho em casa. Depois tenho muitas influências estrangeiras como Ben Foster, Al Pacino, Emile Hirsch, Brad Pitt, Johnny Depp, Sean Penn, Edward Norton, entre muitos outros. As influências diretas, aquelas com quem aprendi pessoalmente, foram todos os profissionais desta arte maravilhosa com quem trabalhei até hoje, desde encenadores a colegas, pelos quais tenho muito apreço.

M.L: Faz, essencialmente, teatro e televisão. Gostava de trabalhar em cinema?
H.D.C: Tenho uma paixão muito especial pelo cinema e espero que a vida e o meu trabalho me marquem um encontro com essa arte.

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou até agora, durante o seu percurso como ator?
H.D.C: Todos os trabalhos são marcantes para mim, pois todos são experiências diferentes, onde aprendemos como profissionais e como cidadãos. Não posso escolher um, pois estaria a ser desonesto comigo mesmo. A aprendizagem é constante e, por vezes, a personagem mais "pequena" é capaz de nos fazer crescer de várias maneiras.

M.L: Em 2001, participou na telenovela “Olhos de Água” que foi exibida na TVI, da qual interpretou a personagem Ernesto. Que recordações guarda desse trabalho?
H.D.C: Muitas, talvez a melhor recordação foi ter tido a oportunidade de conhecer e de trabalhar com aqueles que já não estão entre nós, aqueles que a vida nos tira e que tanta falta cá fazem... Essa será, talvez, a recordação mais marcante.

M.L: “Olhos de Água” foi corealizada por Álvaro Fugulin que faleceu em Outubro de 2002. Como foi trabalhar com ele?
H.D.C: Eu adorava o Álvaro, era uma pessoa com aquele brilhozinho especial!

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
H.D.C: Penso que a Cultura está como, e demonstra, o estado do nosso País. 

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
H.D.C: É um dos meus objetivos, sim.

M.L: É neto do também ator Ruy de Carvalho. Como vê o percurso que o seu avô tem feito até agora?
H.D.C: É um percurso extraordinário. Não há muito mais a acrescentar a isso. Sublime.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como ator?
H.D.C: Tenho melhorado ao longo dos anos. Por motivos pessoais, houve alturas em que, profissionalmente, as coisas não me correram bem, mas faz parte do passado. Agora quero dar cada vez mais de mim ao público que me vê. 

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
H.D.C: Neste momento, estou, juntamente, com o meu agente a planear o próximo ano e, infelizmente, ainda não posso avançar nada, mas, certamente, coisas boas virão.ML

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Brevemente...

Entrevista com... Henrique de Carvalho (Ator)

Mário Lisboa entrevista... Paula de Carvalho

Olá. A próxima entrevista é com a jornalista Paula de Carvalho. Filha do ator Ruy de Carvalho, iniciou-se como jornalista na Antena 1 em 1983, e tem desenvolvido um percurso na área do jornalismo que passa, essencialmente, pela rádio (tendo trabalhado na Deutsche Welle na Alemanha entre 1996 e 1998). Em 2011, saiu da rádio, e, atualmente, trabalha no gabinete de Relações Públicas e Protocolo da Câmara Municipal de Cascais. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 22 de Julho.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
P.D.C: Quando tive que escolher o que queria ser colocaram-se duas hipóteses: Direito ou Jornalismo. Gostava das duas, mas o facto de não ter vaga para entrar em Direito, na Faculdade de Direito de Lisboa, foi decisivo para rumar para a Universidade Nova de Lisboa e para o primeiro curso virado para a Comunicação Social. Foi em 1979.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto jornalista?
P.D.C: Não gosto do jornalismo sensacionalista. O tipo de jornalismo dos tabloides, anglo-saxónico, que usam a vida das pessoas, por tudo e por nada, não é o meu estilo. Eu prefiro o jornalismo da escola francesa. Acontece que, por vezes, a vida das pessoas está "misturada", digamos assim, com os factos, mas só acho que se deve usar essa mistura se for relevante para a história.

M.L: Trabalha, essencialmente, na rádio. Gostava de ter trabalhado em outros meios de comunicação como, por exemplo, a televisão?
P.D.C: Gostava de ter trabalhado em televisão, pelo menos, para experimentar. Mas o que eu gosto mesmo é de rádio. Aliás, a escolha do Jornalismo, em especial o radiofónico, foi influenciada pela rádio, que eu ouvia de manhã à noite. Sempre me fascinou e fascina. O imediato, a proximidade com o ouvinte, a obrigatoriedade da capacidade de síntese.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o seu percurso como jornalista?
P.D.C: Foram vários. Eu fiz trabalhos em todas as áreas, desde a Política, passando pela Cultura e pela Economia, mas foram as reportagens que fiz, quando trabalhava no programa da manhã, entre as 7h00 e as 10h00, que me marcaram mais. Fiz reportagens sobre atentados bombistas, greves, explosões de fábricas, grandes incêndios... É mesmo o que eu gosto de fazer. Faltou-me fazer reportagem de guerra, mas quando tive a possibilidade, tinha um filho pequenino e a família não apoiou.

M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em Portugal?
P.D.C: Felizmente, ainda há muitos jornalistas que conseguem ser isentos, apesar de terem as suas ideias e escolhas políticas. Nem todos os jornalistas são comentadores. É preciso não esquecer que os jornalistas também votam e têm opinião. Mas creio que, na maior parte dos casos, é o fator económico que está a condicionar o jornalismo que se faz hoje em dia. Vemos muitos jovens, em início de carreira, a trabalharem por uns míseros euros, sujeitos à vontade de quem paga, com medo de dizerem o que pensam. É uma situação complicada. É a situação que se vive em muitas áreas profissionais.

M.L: Já trabalhou no estrangeiro. Gostava de ter ficado lá?
P.D.C: Adorei trabalhar na Alemanha e gostava de ter ficado lá, mas a minha vida era em Lisboa, junto dos meus pais. Bem sei que tinha a minha vida muito facilitada, porque fui com um contrato muito bom, mas foi muito importante trabalhar fora de Portugal. Em termos de Jornalismo, no meu caso, no jornalismo radiofónico, não me parece ter aprendido muito mais com os alemães. O que eles fazem, nós portugueses também fazemos, e muito bem. O que foi bom, foi a possibilidade de viver num país, onde as pessoas e, em especial, os Jornalistas são pessoas com prestígio, credíveis. O que contribui para isso é, sem dúvida, o facto de serem muito bem pagos. Se eu disser que fui ganhar para a Alemanha, com a mesma categoria profissional, 8 vezes mais, é só por si suficiente para perceber o que estou a dizer.

M.L: É filha do ator Ruy de Carvalho. Como vê o percurso que o seu pai tem feito até agora?
P.D.C: O meu pai geriu e gere a carreira de uma forma muito simples. De uma forma geral, nunca nega um trabalho. Seja para protagonista ou não. Acho que ele só recusou trabalhos por não ter disponibilidade. Sempre o convidaram para bons papéis, mas ele também soube escolher o que fazer, e posso dizer que ele faz quase todos os géneros. Musicais, comédias, tudo...

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira no jornalismo?
P.D.C: Esteja atenta aos mais velhos. Os colegas com experiência  acrescentam um determinado tipo de saber que as escolas não nos conseguem dar. Sempre que tiverem que fazer um trabalho, façam  primeiro muita pesquisa. É muito importante sabermos do que falamos. Seja sobre uma pessoa, um determinado acontecimento. Acima de tudo, sejam humildes, mas não subservientes e evitem a arrogância.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
P.D.C: Neste momento, estou afastada da rádio. Saí em 2011 e ainda não sei, quando volto. O que estou a fazer é excelente. Estou num gabinete de Relações Públicas e Protocolo, com colegas que me ensinam muito todos os dias. É um trabalho muito interessante. Depois logo vejo.

M.L: Qual é a coisa que gostava que fazer e não tenha feito ainda?
P.D.C: Ter feito reportagem de guerra. Mas não foi possível.

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
P.D.C: Gostava de iniciar um projeto meu, fora do jornalismo. Vamos ver.ML

domingo, 22 de dezembro de 2013

Brevemente...

Entrevista com... Paula de Carvalho (Jornalista)

Mário Lisboa entrevista... Margarida Moreira

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Margarida Moreira. Irmã gémea da atriz Anabela Moreira, desde muito cedo que se interessou pela representação, sendo um dos talentos mais promissores do meio artístico português. Apaixonada pelo que faz, tem desenvolvido um percurso como atriz que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão, e, em 2011, escreveu a letra da canção "Como Um Fado" que foi interpretada por Mikkel Solnado e por Patrícia Vasconcelos, da qual fez parte do álbum "Se o Amor Fosse Só Isso" da própria Patrícia Vasconcelos. Recentemente, foi coprotagonista da peça "Danny e o Profundo Mar Azul" do dramaturgo, guionista e realizador John Patrick Shanley (ganhou, em 1988, o Óscar de Melhor Argumento Original por "O Feitiço da Lua" (1987) de Norman Jewison), da qual foi produzida pela companhia Below The Belt que foi fundada, em 2013, pelo encenador, guionista e ator americano John Frey, da qual faz parte do elenco residente. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 28 de Maio.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
M.M: O interesse pela representação e, em especial, pelo teatro e pelo cinema surgiu muito cedo. Lembro-me ainda de ser criança e sonhar em ser atriz, de acompanhar o percurso de alguns atores, e sonhar fazer o que eles faziam. A verdade é que, desde muito cedo, recriava situações e personagens nas brincadeiras que, muito mais tarde, descobri serem iguais a alguns exercícios que aprendi na minha formação como atriz!

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
M.M: As minhas influências foram, desde sempre, o interesse pelo Ser Humano em geral e em particular! Sempre me interessou as diferentes energias, estados de alma e corporalidade do Ser Humano. Fui, desde muito cedo, influenciada pelo cinema americano (que admiro) e, só muito mais tarde, pelo cinema europeu!  

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que mais gosta de fazer?
M.M: Gosto dos três géneros e cada um oferece um tipo de prazer e emoções diferentes! Tenho tido o privilégio de fazer mais Teatro e neste género o processo de trabalho é diferente e é nos permitido aprofundar, ao longo do tempo de ensaios, o texto e as personagens! A verdade é que, depois de um dia de filmagens, já me aconteceu lembrar-me da cena que tinha feito e pensar noutra abordagem que poderia ter feito à cena... Mas, como já está filmada, não se pode fazer mais nada... Enquanto que, em teatro, de dia para dia vamos descobrindo e enraizando o texto e a personagem e a verdade é que não gosto de processos estanque... Gosto de viver tudo como se fosse a primeira vez... E esse é um trabalho interior intenso que aprecio, enquanto estou num palco. Claro que, quando descubro algo num dia que, para mim, é a verdade daquela cena, então agarro-a sentimentalmente e, nas próximas vezes em palco, revivo-a! Não posso dizer que gosto mais de um género do que outro, a verdade é que quero muito fazer Cinema, que quero muito fazer televisão e que quero muito continuar a fazer teatro! O que gostava, acima de tudo, era conseguir escolher as personagens e os textos que me interessam e, por enquanto, nada disso é possível, pois tenho que agarrar todas as oportunidades que chegam até mim.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o seu percurso como atriz?
M.M: Não posso falar de um só trabalho que me tenha marcado mais, durante o meu percurso e, sinceramente, estou sempre à espera que esse trabalho chegue! Mas, de todos os trabalhos, existem vários que me marcaram! O primeiro foi em Teatro, ainda na escola, quando fiz "O Gato", e tive o privilégio de ter na plateia, o grande Henrique Santana!!! Ser ainda tão miúda e ter na plateia o autor a elogiar o nosso trabalho e ficar emocionado foi, sem dúvida, um momento marcante... Faleceu pouco tempo depois e, para mim, foi uma honra! Todas as vezes que pisei um palco marcou-me e continua a marcar-me! O privilégio de estar ali e de fazer aquilo que mais amo é uma bênção que agradeço sempre! Dos últimos trabalhos, posso referir o percurso que tenho feito com o Peter Pina (meu colega e encenador), com o qual tenho tido a oportunidade de criar a um nível mais profundo, tanto a nível da personagem, como da encenação, como a nível da dramaturgia, e tem sido um privilégio trabalhar assim, apesar de acarretar mais sangue, suor e lágrimas, durante o processo de construção... Com ele, fiz o "Abraça-me" e "A Culpa" e foram, sem dúvida nenhuma, os trabalhos em que a viagem foi mais dolorosa, mas depois também mais gratificantes! Marcou-me, igualmente, a série (agora transformada em filme) "Bairro" de Francisco Moita Flores. "Bairro" foi feito em registo de cinema e tanto a história, como a personagem, como toda a equipa, atores, técnicos e realizadores me fizeram e fazem sentir orgulhosa e privilegiada por fazer parte deste projeto maravilhoso!

M.L: Em 2011, escreveu a letra da canção “Como Um Fado” que foi interpretada por Mikkel Solnado e por Patrícia Vasconcelos, da qual fez parte do álbum “Se o Amor Fosse Só Isso” da própria Patrícia Vasconcelos. Que recordações guarda dessa experiência?
M.M: Desde muito cedo que escrevo, escrevo poesia e prosa, mas sempre na minha intimidade! Guardo a minha escrita, sem esperar que outros a leiam, pois fazem parte do meu Ser mais íntimo e profundo e por isso, até hoje, só publiquei dois poemas meus e um deles ganhou um prémio! Na altura, eu estava a trabalhar com o Nanu Figueiredo dos Mola Dudle num projeto onde, para além de representar, tinha de cantar e eu estava a ter alguma dificuldade em perceber como se conseguia interpretar um texto, quando era cantado... E nesse momento, como ele sabia que eu escrevia, perguntou-me se eu trazia algum dos meus poemas comigo e como ando sempre com um caderninho, onde escrevo o que me vai na alma... Escolheu um poema e começamos a construir uma música com aquele texto... O poema chamava-se "Como Um Fado" e, rapidamente, criamos a melodia e os arranjos para acompanhar a letra. Entretanto, esta música ficou guardada, apesar de que ambos sabíamos que tínhamos criado algo muito especial! Só muito mais tarde, quando a Patrícia Vasconcelos ouviu a música e quis cantá-la e foi assim que esta música se tornou pública, depois o Mikkel Solnado, por sua vez, adorou a música que a Patrícia cantava e quis cantá-la também! A verdade é que a música saiu da gaveta e ganhou vida própria e é um orgulho enorme saber que do meu cantinho, onde escrevi o poema original, nasceu algo tão precioso e que ganhou vida própria. De todas as versões da música que ouvi, aquela que, ainda hoje, considero ser a mais bonita, é mesmo a original cantada pelo Nanu naquela tarde em que ambos criamos aquela música.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
M.M: Em Portugal, as artes, de um modo geral, ainda não são muito valorizadas e o Teatro, em particular, ainda não tem um lugar cativo no coração dos portugueses, mas, pouco a pouco, acredito que as coisas vão melhorando. Os grupos e companhias subsidiados são poucos e aqueles que fazem parte de grupos que não têm apoios sofrem e batalham todos os dias para que o público encha as salas e que venha a receber, de braços abertos, o nosso trabalho! Relativamente à ficção em Portugal, esta tem percorrido um longo caminho e tem evoluído e crescido muito, e é um mercado de trabalho muito bom para muitos atores! Acho que o trabalho em ficção, em Portugal, tem permitido que as gerações mais novas estejam mais atentas aos nossos atores e aos nossos trabalhos e, no futuro, vai trazer bons frutos e aproximar o público do teatro e do cinema feito em Portugal!

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
M.M: Gostaria muito de poder trabalhar com muitos atores e realizadores internacionais que admiro e, por isso, seria um sonho e um privilégio ter essa oportunidade! A verdade é que admiro o trabalho feito lá fora e, por isso, seria uma honra!

M.L: É irmã gémea da atriz Anabela Moreira. Como vê o percurso que a sua irmã tem feito até agora?
M.M: Tenho muito orgulho no percurso que a minha irmã tem feito e, por isso, tenho acompanhado o trabalho dela sem grandes surpresas, pois ambas começamos a sonhar, muito cedo, com esta profissão e, desde sempre, sabia e sei que o céu é o limite!!!

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
M.M: O único conselho que posso dar é trabalhar, trabalhar, trabalhar muito, com muita paixão e amor, pois só assim se pode e deve estar nesta área! E nunca desistir... nunca... as barreiras servem para crescermos e evoluirmos como Seres Humanos e, consequentemente, evoluirmos como atores e são, acima de tudo, desafios para serem ultrapassados!!!

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até agora, como atriz?
M.M: O meu percurso tem sido o percurso de alguém que ama fazer o que faz e que, apesar das dificuldades de se ser ator em Portugal, nunca desistiu! É um percurso recheado de muitas alegrias e de muitas dores! É um percurso que, apesar de tudo, ainda tem muito trilho para percorrer!

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
M.M: Falta-me dar a volta ao Mundo e aventurar-me além-fronteiras…ML

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Mário Lisboa entrevista... Artur Ribeiro

Olá. A próxima entrevista é com o realizador e escritor Artur Ribeiro. Desde muito cedo que se interessou pela realização e pela escrita, sendo um dos grandes talentos do panorama artístico português que surgiram nos últimos anos. Como realizador, estreou-se na realização de longas-metragens com "Duplo Exílio" (2001), uma longa-metragem sobre um homem (cujo os pais saíram dos Açores para emigrarem para os EUA, quando tinha 5 meses de idade) que regressa inesperadamente a Portugal, depois de ser, injustamente, acusado de um crime que não cometeu, e, ao longo do seu percurso como realizador, dirigiu várias produções cinematográficas e televisivas, e, como escritor, escreve para teatro, cinema e televisão. Recentemente, coescreveu o guião da longa-metragem de ficção científica "RPG" (Real Playing Game) de David Rebordão e do produtor Tino Navarro e com um elenco encabeçado por Rutger Hauer, e, atualmente, é autor da telenovela "Belmonte" que está em exibição na TVI, da qual é baseada num formato chileno, e conta com a participação de atores como a brasileira Graziela Schmitt, Filipe Duarte, Marco D'Almeida, João Catarré, Diogo Amaral, Lourenço Ortigão, Manuela Couto, Almeno Gonçalves, Joana Solnado, Carla Galvão, Paulo Pires, Sofia Grillo, José Wallenstein, Luísa Cruz, Sílvia Rizzo, João Didelet, Elsa Galvão, Rita Calçada Bastos, o britânico Norman MacCallum e Estrela Novais. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 1 de Maio.

M.L: Quando surgiu o interesse pela realização e pela escrita?
A.R: Desde a primeira vez em que fui ao cinema, em criança, que disse que era aquilo que eu queria fazer. Na altura, ainda não percebia o que era um argumentista ou um realizador e dizia que queria ser ator, mas quando fui adquirindo mais conhecimentos sobre como se faz cinema e televisão, rapidamente defini que o que queria ser ("quando fosse crescido") era realizador e argumentista.

M.L: Quais são as suas influências nestas duas áreas?
A.R: Recolho influências muito diversas: da literatura ao teatro e, claro, do cinema e da televisão. Mas posso, por exemplo, referir que, quando era adolescente, houve um período essencial que me marcou com duas influências aparentemente paradoxais, mas, para mim, equitativamente importantes: um ciclo de cinema do Ingmar Bergman que passou na televisão ao Domingo à noite, a que eu assisti religiosamente, ao mesmo tempo que no cinema vi fascinado "Os Salteadores da Arca Perdida" (1981) do (Steven) Spielberg. Penso que ambas as experiências marcaram, em mim, a ideia de que o cinema pode ser uma profunda análise ao mais íntimo e sombrio da alma humana e, ao mesmo tempo, uma fantasia heróica e aventureira. Na literatura, foi também marcante, nessa altura da minha vida, ler, por exemplo, Albert Camus e Jean-Paul Sartre ou, por exemplo, "A Montanha Mágica" do Thomas Mann (que lembro-me ter proporcionado dias inteiros de leitura compulsiva), ao mesmo tempo que lia ficção científica (sobretudo, o Philip K. Dick, Robert (A.) Heinlein, etc), e o que mais uma vez demonstrava a riqueza de mundos e ideias que a ficção nos oferecia.

M.L: Escreve para teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que mais gosta de escrever?
A.R: Todos, sem preferência. Tudo depende da ideia do projeto, da história que tenho para contar, e depois, claro, das condições para a concretizar.

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, tanto como realizador e como escritor?
A.R: Como argumentista, foi, sem dúvida, a minissérie "O Dom" (TVI), que ainda considero o melhor que escrevi para televisão. Como dramaturgo, foi o monólogo para teatro "Onde Estavas Quando Criei o Mundo?" que estreou no Teatro Nacional (D. Maria II) em 2012 e interpretado pela Manuela Couto. Em cinema, apesar do meu primeiro filme "Duplo Exílio" (2001) ter sido marcante por ser o primeiro, ainda estou à espera de escrever e realizar um filme que me faça sentir tão realizado como me senti nesse trabalho para televisão e para teatro.

M.L: Entre 2008 e 2009, realizou, juntamente com André Cerqueira e José Manuel Fernandes, a série “Equador” que foi exibida na TVI e baseada no livro, com o mesmo título, da autoria de Miguel Sousa Tavares. Que recordações guarda desse trabalho?
A.R: Foi uma experiência extraordinária pela dimensão do projeto, ao mesmo tempo que, como realizador, foi um privilégio trabalhar com um elenco extenso e fabuloso, assim como uma equipa criativa e dedicada, numa rodagem que, pelas próprias características (filmagens na Índia, no Brasil, para além de Portugal e São Tomé (e Príncipe), tornou-se inesquecível para todos os que nela participaram.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
A.R: É impossível responder a esta pergunta sem falar, infelizmente, da crise, e é preocupante que em televisão (e imagino que no teatro também) os orçamentos sejam cada vez mais reduzidos e, por tal, para não se perder de todo o desenvolvimento da produção nacional, é talvez necessário encontrar novas formas de filmar em que se privilegie o investimento no talento, que começa na escrita e que é quase sempre o parente pobre de uma produção, mas sem um bom guião não se faz boa ficção. E se hoje se podem baixar os custos de produção técnicos por os equipamentos serem mais acessíveis (câmaras, pós-produção, etc, são mais acessíveis que há alguns anos atrás), não se deve reduzir o investimento nas pessoas com talento e na criação e no desenvolvimento de ideias. Infelizmente, no que toca à escrita do guião, o normal é muitas vezes as produções partirem com pouco tempo para o desenvolvimento das ideias, escrita e reescrita, e muitas vezes isso depois reflete-se no produto final.

M.L: Como é que é a sua rotina, quando escreve?
A.R: A minha rotina é tentar evitar uma rotina. Por isso, vario muito, tanto nas horas a que escrevo, como onde escrevo. Gosto de mudar de sítio, nem que seja trocar de mesa em casa, mas ando, às vezes, de café para café, e gosto até de mudar de país (escrevi a peça "Onde Estavas Quando Criei o Mundo?" em 4 semanas em Nova Iorque, os cafés são muito mais convidativos à escrita). Mas, normalmente, escrevo sempre algo de manhã, em casa, e depois saio, ou para o escritório da produtora em que estiver a trabalhar ou mesmo para a beira-mar (onde escrevo muito também) e, às vezes, fico pela noite dentro a escrever, mas, ultimamente, tenho tido mais inspiração de manhã e chego a acordar às 5 horas da manhã com uma ideia e levanto-me para ir escrever (não vale a pena ficar a dar voltas na cama a tentar voltar a dormir, quando a inspiração pede que se escreva). Por isso, seria incapaz de ter um horário de trabalho para escrita e uma rotina de escritório.

M.L: Ajuda na escolha do elenco de uma produção televisiva em que está envolvido (tanto como realizador e como guionista)?
A.R: Sim, sugiro e colaboro sempre. Sobretudo, porque na Plural (onde tenho trabalhado nos últimos anos) ter tido sempre essa abordagem, por parte dos diretores de projeto.

M.L: Em 2012, as telenovelas “Remédio Santo” da TVI e “Rosa Fogo” da SIC foram nomeadas para o Emmy Internacional na categoria de Telenovela. Como vê este reconhecimento internacional?
A.R: É ótimo, embora nos falte esse reconhecimento nas séries, mas para isso é preciso continuar a investir nesse formato.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira seja na realização ou na escrita?
A.R: Que escreva e realize (nem que seja com um telemóvel), mas também leia muito, veja muito cinema e séries, e estude (quer numa escola, quer como auto-didata). 

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até agora, como realizador e como escritor?
A.R: Felizmente, apesar de, naturalmente, ter a ambição de fazer muito mais, posso dizer que, pelo menos, tenho conseguido trabalhar em projetos que gosto e em formatos variados com desafios diversos, mesmo com as limitações inerentes à produção nacional.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
A.R: Produzir o meu próprio filme independente, escrito e realizado por mim, rodeado dos atores e equipa com quem mais gosto de trabalhar, e ver esse filme ter (e merecer) sucesso.

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
A.R: Gostava que me saísse o Euromilhões para poder produzir o tal filme da pergunta anterior... Mas, para isso, acho que tinha de jogar no Euromilhões, e nunca jogo...ML

http://www.youtube.com/user/ArturRibeiroChannel/videos

domingo, 15 de dezembro de 2013

Brevemente...

Entrevista com... Artur Ribeiro (Realizador/Escritor)

Mário Lisboa entrevista... Joana Oliveira

Olá. A próxima entrevista é com a atriz e apresentadora Joana Oliveira. Desde muito cedo que se interessou pela representação e pela Comunicação Social, e tem desenvolvido, nos últimos anos, um interessante percurso como atriz e como apresentadora. Como atriz, faz, essencialmente, televisão (onde entrou em produções como "Fala-me de Amor" (TVI), "Chiquititas" (SIC) e "Lua Vermelha" (SIC), e como apresentadora, conduziu programas como "Dá-lhe Gás" (SIC) e "My Games" (SIC Radical). Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 26 de Agosto.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação e pela Comunicação Social?
J.O: Quando era pequenina, era uma filha única extremamente introvertida. No entanto, fascinava-me pelo mundo do fantástico e pelas estórias que ouvia. Sempre tive um fascínio por pessoas, pelos seus modos, tiques e gestos e pelas peripécias das suas vidas. Tanto como atriz e como jornalista, é isso que se procura: algo que nos impressione e cative a atenção. Temos o privilégio de contar estórias.

M.L: Quais são as suas influências nestas duas áreas?
J.O: As influências têm sido tantas, quanto os estados de espírito que se vão tendo ao longo do tempo. Conta a curiosidade pelo mundo da interpretação, mas não só. Também outras áreas como a música, a literatura, a História, o jornalismo, a arquitetura inspiram qualquer observador atento, tanto como outras figuras, conhecidas, amigas ou anónimas. Estórias que se sabem e que se contam. Tudo isso enriquece o nosso imaginário e faz de nós melhores pessoas, loucos por tantos estímulos e melhores artistas.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora, tanto como atriz e como apresentadora?
J.O: Essa questão é um pouco ingrata de se responder. Cada trabalho lançou desafios, criou circunstâncias, apresentou-me a novas pessoas, expôs-me a algo que será irrepetível pela novidade e pela surpresa. Gosto, sobretudo, de trabalhar. Acho que todas as experiências são enriquecedoras, fazem-nos aperfeiçoar sempre um pouco mais, quer pessoal, como profissionalmente.

M.L: Como atriz, faz, essencialmente, Televisão. Gostava de trabalhar no Teatro e no Cinema?
J.O: Com certeza. São espaços diferentes, não só pelo contacto com o público, mas também pelo próprio método em si. A Televisão é uma academia emocional para os atores em que, todos os dias, a personagem cresce um pouco mais. Interessa a imagem, há um cuidado pelo pequeno pormenor ampliado. No Teatro, há espaço para trabalhar a personagem, dentro de uma narrativa fechada, durante alguns meses. Conhecemos toda a sua viagem, desde o primeiro dia. No entanto, todos os espetáculos são diferentes. No Teatro, há a reação direta e descomprometida do público em massa. Em Televisão, temos, como primeiro público, a equipa que nos filma. Não há muito tempo para repetir. Sempre que tenho oportunidade, procuro participar em cursos de interpretação ou em peças de teatro amador e até participar em curtas-metragens para a universidade. Não perco uma oportunidade. São formas que me fazem feliz de estar sempre pertinho do mundo da representação.

M.L: Em 2006, participou na telenovela “Fala-me de Amor” que foi exibida na TVI, da qual interpretou a personagem Clara Vilar. Que recordações guarda desse trabalho?
J.O: Guardo as melhores recordações. Foi a primeira novela em que participei. Conheci os melhores profissionais de Televisão e fui sempre muito acarinhada. A Clara era uma filha problemática com muitos problemas vividos pelos adolescentes da sua idade. É muito engraçado criar personagens que traduzem as dores e os conflitos de muita gente. Obriga a uma pesquisa e muitos pormenores para que tudo faça sentido.

M.L: Como vê, atualmente, a Cultura e a Comunicação Social em Portugal?
J.O: Acho que somos uns privilegiados pela liberdade e pela oferta que dispomos. Penso que temos sempre ainda muita coisa por fazer.

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
J.O: Penso que inevitavelmente, como em qualquer profissão, devemos tentar sempre evoluir e fazer o nosso melhor. Sobretudo, não descartando oportunidades.  

M.L: Quais são os atores, em Portugal, com quem gostava de trabalhar no futuro?
J.O: Qualquer pessoa que seja generosa e que esteja disponível para estar. Isso já seria uma virtude.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até agora, como atriz e como apresentadora?
J.O: Acho que sou uma privilegiada por já ter tido a oportunidade de concretizar um sonho. No entanto, sou realista e nem tudo depende de sorte, experiência e talento, por isso tenho tentado conciliar a paixão pela representação com a carreira académica.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
J.O: Vou agora para Zurique para acabar o mestrado. Entretanto, contínuo atenta a novas oportunidades no mundo da representação. A ideia de estar parada faz-me muita confusão.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
J.O: Acho sempre que ainda tenho tanto para fazer. Só assim vale a pena.ML

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

"Morreste-me" no Porto...


O monólogo "Morreste-me" que foi criado, a partir do primeiro romance do conceituado escritor José Luís Peixoto, e é protagonizado por Sandra Barata Belo ("Amália-O Filme" (2008), "Uma Aventura na Casa Assombrada" (2009), "Perfeito Coração" (SIC), "Laços de Sangue" (SIC), "Rosa Fogo" (SIC) e "Sol de Inverno" (SIC), está em cena no Teatro Rivoli no Porto até ao próximo dia 15 de Dezembro.

A seguinte sinopse de "Morreste-me":

"Morreste-me" é uma declaração de amor para um pai, para os que nos deixam. Para os que amamos e que ainda estão connosco. Para aqueles que sabemos que quando nos faltarem, o nosso coração ficará só a metade. Quando alguém de nós morre devagarinho, morremos também a cada dia. E ao lado deste sofrimento atroz nasce a coragem, a força, a entrega.

As memórias ajudam-nos a continuar. Reaprendemos a andar e sabemos que a eternidade do outro é garantida no nosso corpo, no nosso sangue, nos nossos olhos.

 
Dentro de um espaço fictício, onde tudo se mistura (algures no Alentejo), encontramos o coração de uma menina, de uma mulher, a quem foi tirada uma das suas bases: o Pai.


Encontramos num tempo confuso pós-perda, pedaços ligados ou desfeitos de uma vida partilhada.


O regresso a “esta terra agora cruel” serve para encaixotar memórias. Fechar a casa com a promessa de voltar e seguir caminho.


Mas de onde vem a coragem para seguir? Como se avança?


“Sem ti e sempre contigo, a tua voz a dizer-me: 
- Orienta-te, rapariga. 
- Eu oriento-me, Pai, eu oriento-me.”


Mário Lisboa

domingo, 8 de dezembro de 2013

Mário Lisboa entrevista... Liliana Leite

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Liliana Leite. Desde muito cedo que se interessou pela representação, e tem desenvolvido uma promissora carreira como atriz que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão. Apaixonada pelo que faz, tem apostado fortemente na formação, e, recentemente, participou na curta-metragem "Um Dia..." de André Sousa, cujo o guião foi escrito por ambos, com a orientação do realizador e escritor Artur Ribeiro, e é a primeira curta-metragem produzida pela Zatara's, uma associação de produção artística e cultural, da qual fundou. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 26 de Agosto.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
L.L: Desde muito jovem que brincava com animais e lhes dava um nome, atribuía uma história, um local para viverem. Sempre preferi coisas que fossem diferentes do standard, experimentava brincadeiras de criança com raparigas, mas não queria perder a experiência das brincadeiras dos rapazes. Aos 6 anos experimentei o teatro e lembro-me de pensar que tinha medo de não fazer bem as marcações ou dizer a frase no momento certo. Hoje sei que o que senti foi adrenalina. Foi isso que me puxou para as artes, para o teatro, para a literatura, para o cinema. Fica-se viciado na sensação de adrenalina que o palco nos dá. Amam-se outras artes, quando nos provocam essa mesma sensação. Julgo que sempre senti interesse pela representação, mas, nem sempre, de forma consciente. Aos 22 anos, tive a certeza que só seria realmente realizada, se fosse atriz.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
L.L: Estranhamente, as minhas referências técnicas são de homens. Sou uma admiradora fervorosa do Denzel Washington e do Morgan Freeman. Admiro o trabalho da Angelina Jolie, pois está bem em tudo o que faz. Gostava muito de trabalhar com a Maria João Luís e com a Rita Blanco, são extraordinariamente inteligentes. Estes atores são referências, possivelmente influências, mas julgo que as maiores influências são ao nível da metodologia (Margie Haber, Michael Margotta, Stela Adler), pois permitem-me, enquanto atriz, encontrar auxílio técnico para lidar comigo, na descoberta da vida das personagens que é suposto viver.

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que mais gosta de fazer?
L.L: São muito díspares e desafiantes. Todos os atores têm de fazer teatro, devem fazer televisão e têm de ser merecedores do Cinema. O teatro ensina-nos muito, a televisão obriga-nos a sermos melhores e mais eficientes, e quero pertencer ao Cinema sempre que possível.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou até agora, enquanto atriz?
L.L: Não tenho um trabalho que destaque mais, tive agradáveis surpresas com coisas que nunca julguei fazer. Foi difícil e compensador fazer um documentário, onde vivi a Santa Beatriz da Silva, lembro-me de receber indicações do realizador: “Estás morta, e és uma santa, logo quero que os teus olhos fechados sorriam e nada de mexer a boca”. Gostei da minha Martírio de “A Casa de Bernarda Alba”, pelo impacto que causava no público, e a minha Sara de “Wisegirls”, pela liberdade de improvisação que tive (ainda não estreou).

M.L: Em 2012, fez uma breve participação na longa-metragem “Linhas de Wellington” de Valeria Sarmiento. Que recordações guarda da sua participação nessa produção?
L.L: A produção de “Linhas de Wellington” foi extraordinária. A equipa técnica e de atores eram excecionais, tive a felicidade e a sorte de poder privar com atores com quem aprendi muito. Foi uma experiência brutal, porque quando estava no plateau, efetivamente, estávamos em outro tempo, a viver outras vidas. A Isabel Branco é formidável, e isso está espelhado na Direção de Arte. Esteve sempre muito frio. Os dias eram muito longos, mas a partilha, as conversas, o poder aprender com pessoas tecnicamente muito boas, obriga-nos a evoluir. Espero que continuem a existir produções desta envergadura em Portugal.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
L.L: Infelizmente não sou muito atenta à ficção em Portugal, mas percebi que o número de produções para TV aumentou substancialmente, o que me agrada, pois haverá menos atores desempregados. Consumo mais Teatro e fico feliz com o índice de criatividade que hoje existe no teatro. A crise obriga a que as pessoas se tornem, naturalmente, mais criativas e isso agrada-me. Lamento que os financiamentos públicos continuem a ser sempre para “alguns”, pois existem companhias que têem feito trabalhos excecionais sem quaisquer apoios. Vejo algumas mudanças, e a mudança agrada-me.

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
L.L: Trabalho para isso.

M.L: Recentemente, participou numa masterclass dada pela atriz americana Melissa Leo, da qual foi integrada na edição deste ano do Fest-Festival Internacional de Cinema Jovem em Espinho. Na sua opinião, a formação é importante para o desenvolvimento do ator?
L.L: Sou frequentadora assídua do Fest, é um excelente festival para quem gosta de cinema. O que aconteceu, foi que tinha uma entrevista agendada com a Melissa Leo, no âmbito da minha tese de Mestrado. Naturalmente, assisti a masterclass da Melissa, que me auxiliou em grande escala. A formação é essencial em qualquer área. Mas para se poder formar é essencial ser generoso e saber-se o que se está a fazer. A Melissa tem 30 anos de carreira e mostrou-me uma perspetiva de estudo nova, clara e útil.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como atriz?
L.L: Tem sido uma aprendizagem e uma evolução constante. O que considero que correu pior foi o facto de ser uma apaixonada pelo que faço e não aceitar que tudo é um negócio e que deveria ser uma indústria. É um mal de muitos atores/artistas, que permite que o nosso sistema abuse de nós. Não é aceitável termos uma profissão não reconhecida e sem estatuto profissional. Não é aceitável ser artista de teatro, bailado, cinema, rádio e televisão e não ATRIZ. Se tivesse menos obrigações fiscais e alguns direitos, seria um balanço mais positivo. Ainda assim, este trabalho faz-me feliz.ML

domingo, 1 de dezembro de 2013

Mário Lisboa entrevista... Ana Mesquita

Olá. A próxima entrevista é com a jornalista Ana Mesquita. Irmã da decoradora Maria Barros, desde muito cedo que se interessou pelo jornalismo, tornando-se numa das mais versáteis e populares jornalistas da sua geração, com um percurso que passa pela imprensa, pela rádio e pela televisão, e além do jornalismo, também têm experiência como escritora e como artista plástica. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 10 de Junho.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
A.M: Algures na minha adolescência, quando a minha mãe começou a trazer-me, de França, as revistas Madame Figaro e Marie Claire. Como sou francófona, desde criança, eram o meu suporte de leitura mais interessante no idioma francês. E isso influenciou, também, o meu interesse pelo jornalismo de moda e de tendências.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto jornalista?
A.M: Gosto muito do jornalismo de investigação e das entrevistas biográficas. Gosto, particularmente, do jornalismo de análise sociológica e de tendências de evolução sobre as sociedades.

M.L: Durante o seu percurso como jornalista, trabalhou na imprensa, na rádio e na televisão. Qual destes meios de comunicação que mais gosta de trabalhar?
A.M: Gostei, à minha maneira, de cada um dos meios, onde trabalhei. Comunicar, despertar, fazer refletir, contribuir para a evolução dos pensamentos e provocar a discussão saudável, o debate, é sempre o meu primeiro desejo e o impulso para cada trabalho que faço.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o seu percurso como jornalista?
A.M: É difícil destacar um. O jornalismo de moda fez-me ganhar um prémio e ser considerada a nível nacional. O trabalho de rádio, com Júlio Machado Vaz, fez-me sair da zona de conforto e estudar, investigar, para poder debater temas para os quais não me tinha formado. E fez-me aprender muito. A televisão foi o passo para uma maior autoconfiança diante do grande público e também a abertura para uma certa popularidade.

M.L: Além do jornalismo, também têm experiência como escritora e como artista plástica. Em qual destas funções em que se sente melhor?
A.M: Também aqui o meu coração balança. Divirto muito em ambas as situações, apesar de que, com o avançar dos anos, talvez esteja a tornar-me mais numa artista plástica. Não sei se é um regresso à essência, se o resumo do que vivi traduzido na minha visão do Mundo e da vida, que procuro sempre que seja bela, bem-humorada e, sempre que possível, feliz.

M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em Portugal?
A.M: Orquestrada pelos interesses dos investidores financeiros que estão a montante dos organigramas (ou se quiser, da hierarquia) da empresa que controla determinado jornal, rádio ou canal de TV.

M.L: É irmã da decoradora Maria Barros. Como vê o percurso que a sua irmã tem feito até agora?
A.M: Extraordinário. É uma mulher com um gosto muito definido e distinto dos demais. É empenhada e trabalhadora. Uma vencedora.

M.L: Entre 2011 e 2012, participou, juntamente com Herman José e Rita Ferro, no programa “Moeda de Troika” que foi exibido na RTP Informação. Que recordações guarda desse programa?
A.M: As melhores possíveis. Tenho, desde criança, uma admiração reverencial pelo Herman. Trata-se de um profissional que marca a nossa História contemporânea. E aprendi a gostar da Rita que, à sua maneira, é também uma alma criativa, irreverente e muito cómica. As pessoas que me conseguem fazer rir, ficam-me no coração. Talvez seja a minha maior vulnerabilidade.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira no jornalismo?
A.M: Que procure ser independente. Que tenha ideias próprias e que não vá para a redação à espera que lhe deem trabalho. Que procure inovar apesar de todos os empecilhos dos muitos bota-de-elástico que irá encontrar pela frente. Que não desista de querer saber. Que procure o angulo positivo das notícias e que procure antecipar-se à visão dos outros, para não ser mais um na selva.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como jornalista?
A.M: Seria obsceno pedir melhor… Tenho um bom património assegurado e uma folha limpa. Tenho os meus atos de irreverência e de luta, que deram resultados, a nível nacional. Fui capaz de contribuir para mudar alguns panoramas estéticos, sociais e até políticos. Tudo o que vier para a frente será melhor, porque irá mais seguro.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
A.M: Eu sei que o seu blogue teria espaço para uma longa lista de projetos que acalento, mas digo-lhe apenas que tudo farei sempre de forma a comunicar, alertando os que me ouvem, procurando contribuir para que vivamos mais felizes, exigindo mais de nós do que dos outros.

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
A.M: O estado das coisas em Portugal. Terrível karma este nosso. Escolhemos o pior país da Europa para atravessarmos esta Guerra do Dinheiro.ML