quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Mário Lisboa entrevista... Elsa Galvão

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Elsa Galvão. Desde muito cedo que se interessou pela representação tendo-se estreado como atriz em 1980 com a peça "Pedaços da Tia Ernestina" no Teatro Aberto, mas profissionalizou-se em 1988 com a peça "Maria não me Mates que Sou Tua Mãe" no mesmo teatro com encenação de Fernando Gomes com quem mantém uma colaboração que se estende até aos dias de hoje tendo desenvolvido um percurso que passa pelos mais variadíssimos géneros e recentemente foi nomeada para os Globos de Ouro na categoria de Melhor Atriz de Teatro pela peça "Fala da Criada dos Noailles..." que contou com encenação de Jorge Silva Melo da qual teve uma interpretação aclamada e reconhecida por parte do público e da crítica. Esta entrevista foi feita por via email em Abril passado.

M.L: Recentemente, participou na peça “Fala da Criada dos Noailles…” que estreou na Culturgest em Julho do ano passado e que esteve em cena no Teatro da Trindade há pouco tempo. Como correu este trabalho?
E.G: A “Fala da Criada dos Noailles…” é um texto de Jorge Silva Melo escrito em 2006 e que integrou o evento “Artistas e Mecenas” realizado na (Fundação Calouste) Gulbenkian. Foi lá que fiz a primeira leitura, depois uma outra aquando do lançamento do livro no Convento das Mónicas e finalmente estreamos em 2010. Texto e encenação são de Jorge Silva Melo com quem foi mais uma vez uma saborosa experiência trabalhar, uma amizade que se estreitou, os ensaios cheios de cumplicidades, um luxo! A “Fala da Criada…” é quase um monólogo, mas como eu gosto de lhe chamar é também uma conversa. Quem nos fala é uma criada que viveu nos loucos anos 20 rodeada de artistas e mecenas e que conta peripécias e memórias de uma vida, durante a qual foi observadora, mas também interveniente.

M.L: Antes de participar em “Fala da Criada dos Noailles…” integrou o elenco da peça “A Maluquinha de Arroios” que esteve em cena em Ponte de Sôr em Abril do ano passado. Como foi participar na peça?
E.G: “A Maluquinha de Arroios” foi uma produção do Teatro da Terra em Ponte de Sôr com encenação de Maria João Luís. Um projeto que juntou atores, amadores, músicos, bailarinos e com uma grande interação com a comunidade. É essencial existirem projetos como este e participar neles é sempre gratificante. Fazer esta viagem com a Maria João Luís, uma excelente atriz e comunicadora, uma grande amiga foi e continua a ser um prazer. O Teatro da Terra é um projeto genuíno e generoso que é urgente apoiar.

M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
E.G: O interesse pela representação penso que começou, quando era miúda. Lembro-me de ficar colada à TV a preto e branco, a ver os filmes do Fred Astaire por quem tinha uma paixão assolapada. Via todos os musicais que podia e deixava que enchessem a minha cabecinha de sonhos e fantasia. Depois o teatro foi acontecendo, eu própria fui acontecendo. Teatro, café-teatro, circo, revista, musical, comédia, drama. Cinema, televisão. Um mundo a cores!
      
M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão foi a série “Morangos com Açúcar” (TVI), onde participou na 6ª temporada da qual interpretou a personagem Helena. Que recordações leva desse trabalho?
E.G: Tenho participado em séries e novelas e até gostaria de o fazer com mais regularidade. Em relação à minha participação na série “Morangos com Açúcar” foi uma experiência muito interessante pela personagem, pelo contato com jovens atores, pela duração que permitiu desenvolver e dar corpo e alma à “Dona Helena”.

M.L: No ano passado, celebrou 30 anos de carreira desde que começou com a peça “Pedaços da Tia Ernestina” no Teatro Aberto em 1980. Que balanço faz destes 30 anos?
E.G: Pois é, já são 30 anos de carreira. Géneros diferentes, mas que vivem da mesma entrega e da mesma paixão. Muitos projetos, cada um especial: pela diferença, pela pesquisa, pela aventura. Tenho tido a sorte de trabalhar com muita gente, com todos aprendi e fui criando personalidade. Qualquer deles me marcou de uma ou de outra maneira: pela ideia, pelo texto, pela encenação, por isto ou por aquilo, mas essencialmente o que me deixa marca são as pessoas. Atores, encenadores, autores, artistas, pessoas. O teatro vive de relações, de laços que se fazem e desfazem, é um lugar de criatividade e afetos. Para mim é a melhor profissão do mundo.

M.L: Desde 1988 que colabora com o encenador Fernando Gomes com quem fundou a companhia Klássikus. Como é trabalhar com ele?
E.G: A minha colaboração com o Fernando Gomes estende-se desde há 23 anos, o tempo foi passando sem se dar conta. É uma relação de trabalho, de amizade, de vida. Muita comédia, muito musical, muitas aventuras. O Fernando Gomes é uma pessoa única e espantosa com uma energia fora do normal. E imagino que vamos continuar a fazer imensa coisa juntos com essa alegria sempre renovada que nos trazem os espetáculos do Fernando Gomes.

M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
E.G: Pois acho que o teatro e a ficção nacional estão bem e recomendam-se. É preciso fazer sempre mais para fazer sempre melhor. Dar apoio aos que já estão e têm história e oportunidades a quem começa a fazer história.

M.L: Recentemente fez 50 anos. Como é que se sente ao chegar a esta idade?
E.G: E pois é verdade, fiz 50 anos no passado dia 29 de Março, mais uma Primavera. Como me sinto? Sinto-me mais velha com tudo o que isso tem de maravilhoso e de assustador. Junte-se à alegria de estar aqui a gozar o mais possível todos os momentos às incertezas de uma profissão sem estabilidade financeira, sem estabilidade e ponto. Mas aos 50 contínuo com a mesma vontade de acompanhar as mudanças num mundo que não pára e que vai seguir sem mim. Quem me dera que de hoje para amanhã, o mundo desse valor ao mundo.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
E.G: Neste momento, estou em Ponte de Sôr com “A Loja das Lamparinas”, uma produção do Teatro da Terra. Dois atores: o João Didelet e eu à volta de contos do mundo. Um espetáculo que irá em digressão. Novos projetos: “O Marido Vai à Caça” com encenação de Maria João Luís em Ponte de Sôr, uma leitura de um novo texto de Jorge Silva Melo no (Teatro) Nacional (D. Maria II), uma animação no Chapitô e com o Fernando Gomes mais um musical no (Teatro da) Malaposta. Para já é o que tenho previsto até ao final do ano.

M.L: Se não fosse a Elsa Galvão, qual era a atriz que gostava de ter sido?
E.G: Não sendo a Elsa é-me difícil imaginar a outra que poderia ter sido. E acho que muita coisa ainda vai mudar em mim.ML

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